Mudanças entre as edições de "Julia Pombo"
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− | a imobilidade faz parte do mover, ela nunca é absoluta. o corpo passa por diversos e intensos processos de movimento, mesmo quando está visivelmente parado. a proposta busca um diálogo entre o invisível móvel e o | + | '''flores movem suas cabeças contra a janela''' |
− | visível imóvel – quais as distâncias e proximidades existentes entre esses dois estados? como uma coisa afeta a outra? | + | |
+ | permanecer imóvel, em pé, durante o máximo de tempo que conseguir, durante os dias de residência, variando o lugar inicial em cada dia. d-entro disso, os intervalos permitidos serão os momentos de refeição, para usar o banheiro, dormir e ajudar nas tarefas do cotidiano (como lavar louça, etc). a pesquisa com a imobilidade também implicará em permanecer sem silêncio (a voz como parte do corpo imóvel). | ||
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+ | neste processo, em caso de ‘falha’ (mover em momentos não “permitidos”), outra regra integrará a pesquisa: o deslocamento, através de estudos de movimentos de repetição/improvisação, para reiniciar a imobilidade em outro lugar. | ||
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+ | a proposta de investigar a imobilidade parte de processos criativos desenvolvidos com o corpo em suas | ||
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+ | movimento, mesmo quando está visivelmente parado. a proposta busca um diálogo entre o invisível móvel e o visível imóvel – quais as distâncias e proximidades existentes entre esses dois estados? como uma coisa afeta a outra? | ||
abrir a percepção para a imobilidade amplia as possibilidades de movimento. | abrir a percepção para a imobilidade amplia as possibilidades de movimento. | ||
− | aliados a esta pesquisa com/no corpo, estão a imagem (especialmente fotografia e vídeo) e a roupa (a costura). processos de criação em torno dessas questões vem sendo desenvolvidos, e todas essas coisas se relacionam e intercessionam. | + | aliados a esta pesquisa com/no corpo, estão a imagem (especialmente fotografia e vídeo) e a roupa (a costura). processos de criação em torno dessas questões vem sendo desenvolvidos, e todas essas coisas se relacionam e intercessionam. em ''flores movem suas cabeças contra a janela'', a pesquisa com a indumentária entra nesse diálogo com a imobilidade. |
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− | a imobilidade corporal, promovida por mecanismos neurais ativos que suspendem a emissão de atividade motora dos músculos esqueléticos, é uma '''manifestação comportamental''' compartilhada por inúmeras espécies animais. assim, é possível observá-la durante o sono da maioria das espécies, nos filhotes de | + | a '''imobilidade corporal''', promovida por mecanismos neurais ativos que suspendem a emissão de atividade motora dos músculos esqueléticos, é uma '''manifestação comportamental''' compartilhada por inúmeras espécies animais. assim, é possível observá-la durante o sono da maioria das espécies, nos filhotes de mamíferos quando suspensos pela pele dorsal do pescoço pelas mães que os transportam nos dentes, em predadores durante a espreita para emboscar uma presa, em vários animais em situações de alerta ou medo, em animais que mimetizam elementos inanimados do ambiente e em outras situações mais específicas, tal como nas fêmeas de muitas espécies durante a cópula. a ampla variedade de situações, a vasta gama topográfica das '''posturas de imobilidade''' e o número de espécies em que ela ocorre levaram a cunhar o termo respostas de imobilidade para designá-las em conjunto. |
estas imobilidades têm '''funções adaptativas''' diferentes. | estas imobilidades têm '''funções adaptativas''' diferentes. | ||
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discute-se se existe '''uma resposta de imobilidade fundamental com expressões diferentes''', induzida por uma série de estímulos diferentes e segundo a espécie considerada, ou se existem '''diferentes formas de imobilidade com diferentes características''' em cada espécie e diferentes formas de imobilidade coexistam em uma mesma espécie. | discute-se se existe '''uma resposta de imobilidade fundamental com expressões diferentes''', induzida por uma série de estímulos diferentes e segundo a espécie considerada, ou se existem '''diferentes formas de imobilidade com diferentes características''' em cada espécie e diferentes formas de imobilidade coexistam em uma mesma espécie. | ||
− | a imobilidade pertence à categoria de '''comportamentos de defesa''', precedida inicialmente por emissão de comportamentos de enfrentamento e são respostas evocadas por uma situação de estresse. | + | a imobilidade pertence à categoria de '''comportamentos de defesa''', precedida inicialmente por emissão de '''comportamentos de enfrentamento''' e são respostas evocadas por uma situação de estresse. |
a imobilidade se instala após período inicial de '''emissão intensa de tentativas de evasão''' da situação estressante e aversiva. | a imobilidade se instala após período inicial de '''emissão intensa de tentativas de evasão''' da situação estressante e aversiva. | ||
− | a inescapabilidade nestas situações é uma possibilidade e a '''emissão de imobilidade''', após um período de '''enfrentamento ativo''', pode ter a função de '''conservação de energia''' para gasto em condições mais favoráveis, ou ser manifestação de um '''estado depressivo''' que evoluiu filogeneticamente para tornar indiferente o sofrimento da morte em condições adversas extremas | + | a inescapabilidade nestas situações é uma possibilidade e a '''emissão de imobilidade''', após um período de '''enfrentamento ativo''', pode ter a função de '''conservação de energia''' para gasto em condições mais favoráveis, ou ser manifestação de um '''estado depressivo''' que evoluiu filogeneticamente para tornar indiferente o sofrimento da morte em condições adversas extremas |
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+ | a origem da '''indumentária''' é alheia às variações de temperatura e está ligada ao '''movimento''' e à luta entre os sexos. | ||
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+ | alguns trajes se destinavam a '''esconder o corpo''' pela '''rigidez e imobilidade'''. | ||
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+ | a mulher era inicialmente '''paralisada''' da cintura para baixo. o uso da '''saia apertada''' é uma sobrevivência dessas amarras antigas que visariam '''impedir a locomoção''', fixando-a. | ||
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+ | o uso das '''calças''' obedece às necessidades, sempre crescentes, de '''proteger''' as pontas do corpo responsáveis pelo '''movimento'''. | ||
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+ | o feminismo se desenvolve com a conquista, pela mulher, dos '''movimentos da parte inferiror do corpo''', isto é, com o movimento das amarras que impedem esses movimentos. | ||
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+ | é pelo '''movimento em defesa do corpo''' que a idumentária se altera e é com o advento da confirmação do '''simbolismo místico''' no '''traje religioso''' no século ix que as classes hierárquicas na igreja começam a distinguir-se pelo traje - quanto mais alta a classe hierárquica, maior o número de peças no traje. isto significa: quanto mais alta a classe hierarquica, mais '''isolado''' se torna o corpo do mundo exterior. | ||
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+ | o '''isolamento máximo traz a imobilidade máxima''' à mais alta hierarquia. imobilidade e altura hierárquica se confundem. paradoxalmente, '''a proteção ao movimetno conduz à ausência de movimento'''. | ||
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+ | durante mais de cinquenta anos, um dos recursos do tratamento psiquiátrico era utilizar uma '''camisa de lona resistente''', com as mangas muito compridas e fechadas que eram '''amarradas firmemente''', com cordões. os '''braços e a parte superior do corpo''' ficavam amarrados às costas, '''impedindo movimentos''' violentos e deixando a pessoa '''imobilizada e inofensiva'''. | ||
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+ | '''despojado de suas roupas''' e vestido com as imensas vestimentas da '''instituição'''. as largas roupas o '''impedem''' de perceber as condições do próprio '''corpo'''. '''o espaço ocupado é sempre o mesmo''' - imóvel, caminha em círculos. | ||
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+ | as '''correntes imobilizantes''' do escravo, do prisioneiro e do rei, são aplicadas nas pontas do corpo: a cabeça, os pés e as mãos. a tortura é quase sempre aplicada nas pontas do corpo e são essas pontas que recebem hoje o '''adorno das jóias'''. | ||
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+ | é o '''movimento''' que provoca as grandes alterações na moda e na maneira do ser humano se '''apresentar ao mundo'''. o movimento deu à humanidade '''linguagem e visão geográfica'''. | ||
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+ | sempre houve o desejo de '''impedir''' a liberdade de pensamento que se encontra ligada à liberdade de '''locomoção'''. | ||
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+ | o ser humano do começo '''bailava e chorava''', executando a sua '''linguagem abstrata de gestos''' com os pés e as mãos e assim fazia para atrair a atenção do seu semelhante, comunicando-se com este. | ||
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+ | o '''movimento reflexo''', proveniente do equilíbrio da árvore, quando eliminada a árvore, continuou segurando galhos '''abstratos e ausentes''' em '''estranha e bela gesticulação''', acompanhados de sons monotonais. | ||
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+ | da mesma maneira que o canto está antes do som articulado também '''a dança é gerada antes do movimento articulado metronomizado e esteriotipado da vida diária'''. | ||
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+ | [[Arquivo: camisa de força.png]] [[Arquivo: imobilidade_ou_emissao.jpg]] | ||
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+ | (os textos 1, 2 e 3 são compostos por trechos de um artigo científico encontrado na internet e por trechos dos escritos de flavio de carvalho) | ||
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+ | outras possibilidades da experiência do olhar. | ||
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+ | espasmos. quebras. | ||
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+ | o ouvido nunca fica imóvel. a voz muda é corpo não físico imóvel. a escuta nunca fica imóvel. | ||
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+ | o que é o tempo? | ||
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+ | o que é o frio? | ||
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+ | os únicos movimentos "controlados" / "intencionais" das plantas são o crescimento e os devios em busca da luz | ||
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+ | sol, verde, ar. | ||
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+ | os insetos fazem de mim planta, pedra, coisa. | ||
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+ | música, provocação. concentração. | ||
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+ | que imagens permanecem de uma ação? | ||
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+ | a roupa que limita potencializa. | ||
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+ | voz silenciada - imobilidade permanente. | ||
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+ | interrompida pelo fluxo do ciclo, pela dor das entranhas. | ||
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+ | descanse e volte. | ||
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− | + | 3° | |
− | + | o corpo dentro e o corpo fora. interferências. | |
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+ | a memória do registro. | ||
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+ | o pensamento nunca imobiliza. | ||
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+ | olhar o mesmo ponto sempre ou olhar o mesmo movimento sempre. fixo - mutável. | ||
+ | |||
+ | silenciar a fala para conservação de energia. | ||
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+ | chuva - choro. | ||
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+ | a loucura e o altismo. | ||
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+ | chuva - choro. força e entrega. | ||
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+ | 4° | ||
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+ | o branco e o silêncio. | ||
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+ | pele. | ||
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+ | ruído. | ||
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+ | isolamento e contato. | ||
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+ | o máximo de tempo não é o suficiente. | ||
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+ | ... | ||
− | + | o encontro: manuel de barros - o retrato do artista enquanto coisa |
Edição atual tal como às 00h18min de 10 de fevereiro de 2015
flores movem suas cabeças contra a janela
permanecer imóvel, em pé, durante o máximo de tempo que conseguir, durante os dias de residência, variando o lugar inicial em cada dia. d-entro disso, os intervalos permitidos serão os momentos de refeição, para usar o banheiro, dormir e ajudar nas tarefas do cotidiano (como lavar louça, etc). a pesquisa com a imobilidade também implicará em permanecer sem silêncio (a voz como parte do corpo imóvel).
neste processo, em caso de ‘falha’ (mover em momentos não “permitidos”), outra regra integrará a pesquisa: o deslocamento, através de estudos de movimentos de repetição/improvisação, para reiniciar a imobilidade em outro lugar.
a proposta de investigar a imobilidade parte de processos criativos desenvolvidos com o corpo em suas possibilidades de mover, fragmentar, relacionar, e estar em limite, abrindo novos processos de subjetivação.
a imobilidade faz parte do mover, ela nunca é absoluta. o corpo passa por diversos e intensos processos de movimento, mesmo quando está visivelmente parado. a proposta busca um diálogo entre o invisível móvel e o visível imóvel – quais as distâncias e proximidades existentes entre esses dois estados? como uma coisa afeta a outra?
abrir a percepção para a imobilidade amplia as possibilidades de movimento.
aliados a esta pesquisa com/no corpo, estão a imagem (especialmente fotografia e vídeo) e a roupa (a costura). processos de criação em torno dessas questões vem sendo desenvolvidos, e todas essas coisas se relacionam e intercessionam. em flores movem suas cabeças contra a janela, a pesquisa com a indumentária entra nesse diálogo com a imobilidade.
...
1.
a imobilidade corporal, promovida por mecanismos neurais ativos que suspendem a emissão de atividade motora dos músculos esqueléticos, é uma manifestação comportamental compartilhada por inúmeras espécies animais. assim, é possível observá-la durante o sono da maioria das espécies, nos filhotes de mamíferos quando suspensos pela pele dorsal do pescoço pelas mães que os transportam nos dentes, em predadores durante a espreita para emboscar uma presa, em vários animais em situações de alerta ou medo, em animais que mimetizam elementos inanimados do ambiente e em outras situações mais específicas, tal como nas fêmeas de muitas espécies durante a cópula. a ampla variedade de situações, a vasta gama topográfica das posturas de imobilidade e o número de espécies em que ela ocorre levaram a cunhar o termo respostas de imobilidade para designá-las em conjunto.
estas imobilidades têm funções adaptativas diferentes.
discute-se se existe uma resposta de imobilidade fundamental com expressões diferentes, induzida por uma série de estímulos diferentes e segundo a espécie considerada, ou se existem diferentes formas de imobilidade com diferentes características em cada espécie e diferentes formas de imobilidade coexistam em uma mesma espécie.
a imobilidade pertence à categoria de comportamentos de defesa, precedida inicialmente por emissão de comportamentos de enfrentamento e são respostas evocadas por uma situação de estresse.
a imobilidade se instala após período inicial de emissão intensa de tentativas de evasão da situação estressante e aversiva.
a inescapabilidade nestas situações é uma possibilidade e a emissão de imobilidade, após um período de enfrentamento ativo, pode ter a função de conservação de energia para gasto em condições mais favoráveis, ou ser manifestação de um estado depressivo que evoluiu filogeneticamente para tornar indiferente o sofrimento da morte em condições adversas extremas
...
2.
a origem da indumentária é alheia às variações de temperatura e está ligada ao movimento e à luta entre os sexos.
alguns trajes se destinavam a esconder o corpo pela rigidez e imobilidade.
a mulher era inicialmente paralisada da cintura para baixo. o uso da saia apertada é uma sobrevivência dessas amarras antigas que visariam impedir a locomoção, fixando-a.
o uso das calças obedece às necessidades, sempre crescentes, de proteger as pontas do corpo responsáveis pelo movimento.
o feminismo se desenvolve com a conquista, pela mulher, dos movimentos da parte inferiror do corpo, isto é, com o movimento das amarras que impedem esses movimentos.
é pelo movimento em defesa do corpo que a idumentária se altera e é com o advento da confirmação do simbolismo místico no traje religioso no século ix que as classes hierárquicas na igreja começam a distinguir-se pelo traje - quanto mais alta a classe hierárquica, maior o número de peças no traje. isto significa: quanto mais alta a classe hierarquica, mais isolado se torna o corpo do mundo exterior.
o isolamento máximo traz a imobilidade máxima à mais alta hierarquia. imobilidade e altura hierárquica se confundem. paradoxalmente, a proteção ao movimetno conduz à ausência de movimento.
durante mais de cinquenta anos, um dos recursos do tratamento psiquiátrico era utilizar uma camisa de lona resistente, com as mangas muito compridas e fechadas que eram amarradas firmemente, com cordões. os braços e a parte superior do corpo ficavam amarrados às costas, impedindo movimentos violentos e deixando a pessoa imobilizada e inofensiva.
despojado de suas roupas e vestido com as imensas vestimentas da instituição. as largas roupas o impedem de perceber as condições do próprio corpo. o espaço ocupado é sempre o mesmo - imóvel, caminha em círculos.
as correntes imobilizantes do escravo, do prisioneiro e do rei, são aplicadas nas pontas do corpo: a cabeça, os pés e as mãos. a tortura é quase sempre aplicada nas pontas do corpo e são essas pontas que recebem hoje o adorno das jóias.
é o movimento que provoca as grandes alterações na moda e na maneira do ser humano se apresentar ao mundo. o movimento deu à humanidade linguagem e visão geográfica.
…
3.
sempre houve o desejo de impedir a liberdade de pensamento que se encontra ligada à liberdade de locomoção.
o ser humano do começo bailava e chorava, executando a sua linguagem abstrata de gestos com os pés e as mãos e assim fazia para atrair a atenção do seu semelhante, comunicando-se com este.
o movimento reflexo, proveniente do equilíbrio da árvore, quando eliminada a árvore, continuou segurando galhos abstratos e ausentes em estranha e bela gesticulação, acompanhados de sons monotonais.
da mesma maneira que o canto está antes do som articulado também a dança é gerada antes do movimento articulado metronomizado e esteriotipado da vida diária.
(os textos 1, 2 e 3 são compostos por trechos de um artigo científico encontrado na internet e por trechos dos escritos de flavio de carvalho)
...
registros:
1°
do olhar (não olhar) e do engolir.
olhar o mesmo ponto sempre
olhar com dispersão
na imobilidade ter a escolha.
outras possibilidades da experiência do olhar.
sair e voltar. volta.
espasmos. quebras.
o ouvido nunca fica imóvel. a voz muda é corpo não físico imóvel. a escuta nunca fica imóvel.
o que é o tempo?
o que é o frio?
os únicos movimentos "controlados" / "intencionais" das plantas são o crescimento e os devios em busca da luz
2°
sol, verde, ar.
os insetos fazem de mim planta, pedra, coisa.
música, provocação. concentração.
que imagens permanecem de uma ação?
a roupa que limita potencializa.
voz silenciada - imobilidade permanente.
interrompida pelo fluxo do ciclo, pela dor das entranhas.
descanse e volte.
3°
o corpo dentro e o corpo fora. interferências.
a memória do registro.
o pensamento nunca imobiliza.
olhar o mesmo ponto sempre ou olhar o mesmo movimento sempre. fixo - mutável.
silenciar a fala para conservação de energia.
chuva - choro.
a loucura e o altismo.
chuva - choro. força e entrega.
4°
o branco e o silêncio.
pele.
ruído.
isolamento e contato.
o máximo de tempo não é o suficiente.
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o encontro: manuel de barros - o retrato do artista enquanto coisa