Mudanças entre as edições de "Julia Pombo"

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== (texto criado com anotações autorais e com o uso livre das fontes: clotilde maria michelan; lílian daltro michelan; hugo m. g. de paula; katsumasa hoshino, imobilidade tônica e imobilidade do nado forçado em cobaias, artigo em revista online - http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-28052006000200005; flávio de carvalho, a teoria da moda de flávio de carvalho, mam-rj)
 
 
 
(as duas primeiras imagens foram retiradas da internet. a terceira é trabalho autoral com o título -  imobilidade ou emissão intensa de tentativas de evasão) ==
 

Edição das 19h30min de 16 de janeiro de 2015

flores movem suas cabeças contra a janela

a proposta de investigar a imobilidade parte de processos criativos desenvolvidos com o corpo em suas possibilidades de mover, fragmentar, relacionar, e estar em limite, abrindo novos processos de subjetivação.

a imobilidade faz parte do mover, ela nunca é absoluta. o corpo passa por diversos e intensos processos de movimento, mesmo quando está visivelmente parado. a proposta busca um diálogo entre o invisível móvel e o visível imóvel – quais as distâncias e proximidades existentes entre esses dois estados? como uma coisa afeta a outra?

abrir a percepção para a imobilidade amplia as possibilidades de movimento.

aliados a esta pesquisa com/no corpo, estão a imagem (especialmente fotografia e vídeo) e a roupa (a costura). processos de criação em torno dessas questões vem sendo desenvolvidos, e todas essas coisas se relacionam e intercessionam. em flores movem suas cabeças contra a janela, a pesquisa com a indumentária entra nesse diálogo com a imobilidade.

...

a imobilidade corporal, promovida por mecanismos neurais ativos que suspendem a emissão de atividade motora dos músculos esqueléticos, é uma manifestação comportamental compartilhada por inúmeras espécies animais. assim, é possível observá-la durante o sono da maioria das espécies, nos filhotes de mamíferos quando suspensos pela pele dorsal do pescoço pelas mães que os transportam nos dentes, em predadores durante a espreita para emboscar uma presa, em vários animais em situações de alerta ou medo, em animais que mimetizam elementos inanimados do ambiente e em outras situações mais específicas, tal como nas fêmeas de muitas espécies durante a cópula. a ampla variedade de situações, a vasta gama topográfica das posturas de imobilidade e o número de espécies em que ela ocorre levaram a cunhar o termo respostas de imobilidade para designá-las em conjunto.

estas imobilidades têm funções adaptativas diferentes.

discute-se se existe uma resposta de imobilidade fundamental com expressões diferentes, induzida por uma série de estímulos diferentes e segundo a espécie considerada, ou se existem diferentes formas de imobilidade com diferentes características em cada espécie e diferentes formas de imobilidade coexistam em uma mesma espécie.

a imobilidade pertence à categoria de comportamentos de defesa, precedida inicialmente por emissão de comportamentos de enfrentamento e são respostas evocadas por uma situação de estresse.

a imobilidade se instala após período inicial de emissão intensa de tentativas de evasão da situação estressante e aversiva.

a inescapabilidade nestas situações é uma possibilidade e a emissão de imobilidade, após um período de enfrentamento ativo, pode ter a função de conservação de energia para gasto em condições mais favoráveis, ou ser manifestação de um estado depressivo que evoluiu filogeneticamente para tornar indiferente o sofrimento da morte em condições adversas extremas


Imobilidade animal.jpg

...

a origem da indumentária é alheia às variações de temperatura e está ligada ao movimento e à luta entre os sexos.

alguns trajes se destinavam a esconder o corpo pela rigidez e imobilidade.

a mulher era inicialmente paralisada da cintura para baixo. o uso da saia apertada é uma sobrevivência dessas amarras antigas que visariam impedir a locomoção, fixando-a.

o uso das calças obedece às necessidades, sempre crescentes, de proteger as pontas do corpo responsáveis pelo movimento.

o feminismo se desenvolve com a conquista, pela mulher, dos movimentos da parte inferiror do corpo, isto é, com o movimento das amarras que impedem esses movimentos.

é pelo movimento em defesa do corpo que a idumentária se altera e é com o advento da confirmação do simbolismo místico no traje religioso no século ix que as classes hierárquicas na igreja começam a distinguir-se pelo traje - quanto mais alta a classe hierárquica, maior o número de peças no traje. isto significa: quanto mais alta a classe hierarquica, mais isolado se torna o corpo do mundo exterior.

o isolamento máximo traz a imobilidade máxima à mais alta hierarquia. imobilidade e altura hierárquica se confundem. paradoxalmente, a proteção ao movimetno conduz à ausência de movimento.

durante mais de cinquenta anos, um dos recursos do tratamento psiquiátrico era utilizar uma camisa de lona resistente, com as mangas muito compridas e fechadas que eram amarradas firmemente, com cordões. os braços e a parte superior do corpo ficavam amarrados às costas, impedindo movimentos violentos e deixando a pessoa imobilizada e inofensiva.

despojado de suas roupas e vestido com as imensas vestimentas da instituição. as largas roupas o impedem de perceber as condições do próprio corpo. o espaço ocupado é sempre o mesmo - imóvel, caminha em círculos.

as correntes imobilizantes do escravo, do prisioneiro e do rei, são aplicadas nas pontas do corpo: a cabeça, os pés e as mãos. a tortura é quase sempre aplicada nas pontas do corpo e são essas pontas que recebem hoje o adorno das jóias.

é o movimento que provoca as grandes alterações na moda e na maneira do ser humano se apresentar ao mundo. o movimento deu à humanidade linguagem e visão geográfica.

sempre houve o desejo de impedir a liberdade de pensamento que se encontra ligada à liberdade de locomoção.

o ser humano do começo bailava e chorava, executando a sua linguagem abstrata de gestos com os pés e as mãos e assim fazia para atrair a atenção do seu semelhante, comunicando-se com este.

o movimento reflexo, proveniente do equilíbrio da árvore, quando eliminada a árvore, continuou segurando galhos abstratos e ausentes em estranha e bela gesticulação, acompanhados de sons monotonais.

da mesma maneira que o canto está antes do som articulado também a dança é gerada antes do movimento articulado metronomizado e esteriotipado da vida diária.


Camisa de força.png Imobilidade ou emissao.jpg