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'''flores movem suas cabeças contra a janela'''
 
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a proposta de investigar a imobilidade parte de processos criativos desenvolvidos com o corpo em suas possibilidades de mover, fragmentar, relacionar, e estar em limite, abrindo novos processos de subjetivação.
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a imobilidade faz parte do mover, ela nunca é absoluta. o corpo passa por diversos e intensos processos de
visível imóvel – quais as distâncias e proximidades existentes entre esses dois estados? como uma coisa afeta a outra?
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movimento, mesmo quando está visivelmente parado. a proposta busca um diálogo entre o invisível móvel e o visível imóvel – quais as distâncias e proximidades existentes entre esses dois estados? como uma coisa afeta a outra?
  
 
abrir a percepção para a imobilidade amplia as possibilidades de movimento.
 
abrir a percepção para a imobilidade amplia as possibilidades de movimento.
  
aliados a esta pesquisa com/no corpo, estão a imagem (especialmente fotografia e vídeo) e a roupa (a costura). processos de criação em torno dessas questões vem sendo desenvolvidos, e todas essas coisas se relacionam e intercessionam.  
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aliados a esta pesquisa com/no corpo, estão a imagem (especialmente fotografia e vídeo) e a roupa (a costura). processos de criação em torno dessas questões vem sendo desenvolvidos, e todas essas coisas se relacionam e intercessionam. em ''flores movem suas cabeças contra a janela'', a pesquisa com a indumentária entra nesse diálogo com a imobilidade.  
  
 
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a imobilidade e os animais
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a '''imobilidade corporal''', promovida por mecanismos neurais ativos que suspendem a emissão de atividade motora dos músculos esqueléticos, é uma '''manifestação comportamental''' compartilhada por inúmeras espécies animais. assim, é possível observá-la durante o sono da maioria das espécies, nos filhotes de mamíferos quando suspensos pela pele dorsal do pescoço pelas mães que os transportam nos dentes, em predadores durante a espreita para emboscar uma presa, em vários animais em situações de alerta ou medo, em animais que mimetizam elementos inanimados do ambiente e em outras situações mais específicas, tal como nas fêmeas de muitas espécies durante a cópula. a ampla variedade de situações, a vasta gama topográfica das '''posturas de imobilidade''' e o número de espécies em que ela ocorre levaram a cunhar o termo respostas de imobilidade para designá-las em conjunto.
 
 
a imobilidade corporal, promovida por mecanismos neurais ativos que suspendem a emissão de atividade motora dos músculos esqueléticos, é uma '''manifestação comportamental''' compartilhada por inúmeras espécies animais. assim, é possível observá-la durante o sono da maioria das espécies, nos filhotes de a mamíferos quando suspensos pela pele dorsal do pescoço pelas mães que os transportam seguros nos dentes, em predadores durante a espreita para emboscar uma presa, em vários animais em situações de alerta ou medo, em animais que mimetizam elementos inanimados do ambiente e em outras situações mais específicas, tal como nas fêmeas de muitas espécies durante a cópula. a ampla variedade de situações, a vasta gama topográfica '''das posturas de imobilidade''' e o número de espécies em que ela ocorre levaram a cunhar o termo respostas de imobilidade para designá-las em conjunto.
 
  
 
estas imobilidades têm '''funções adaptativas''' diferentes.
 
estas imobilidades têm '''funções adaptativas''' diferentes.
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discute-se se existe '''uma resposta de imobilidade fundamental com expressões diferentes''', induzida por uma série de estímulos diferentes e segundo a espécie considerada, ou se existem '''diferentes formas de imobilidade com diferentes características''' em cada espécie e diferentes formas de imobilidade coexistam em uma mesma espécie.
 
discute-se se existe '''uma resposta de imobilidade fundamental com expressões diferentes''', induzida por uma série de estímulos diferentes e segundo a espécie considerada, ou se existem '''diferentes formas de imobilidade com diferentes características''' em cada espécie e diferentes formas de imobilidade coexistam em uma mesma espécie.
  
a imobilidade pertence à categoria de '''comportamentos de defesa''', precedida inicialmente por emissão de comportamentos de enfrentamento e são respostas evocadas por uma situação de estresse.
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a imobilidade pertence à categoria de '''comportamentos de defesa''', precedida inicialmente por emissão de '''comportamentos de enfrentamento''' e são respostas evocadas por uma situação de estresse.
  
 
a imobilidade se instala após período inicial de '''emissão intensa de tentativas de evasão''' da situação estressante e aversiva.
 
a imobilidade se instala após período inicial de '''emissão intensa de tentativas de evasão''' da situação estressante e aversiva.
  
a inescapabilidade nestas situações é uma possibilidade e a '''emissão de imobilidade''', após um período de '''enfrentamento ativo''', pode ter a função de '''conservação de energia''' para gasto em condições mais favoráveis, ou ser manifestação de um '''estado depressivo''' que evoluiu filogeneticamente para tornar indiferente o sofrimento da morte em condições adversas extremas.
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a inescapabilidade nestas situações é uma possibilidade e a '''emissão de imobilidade''', após um período de '''enfrentamento ativo''', pode ter a função de '''conservação de energia''' para gasto em condições mais favoráveis, ou ser manifestação de um '''estado depressivo''' que evoluiu filogeneticamente para tornar indiferente o sofrimento da morte em condições adversas extremas
  
  
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a imobilidade e a roupa
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a origem da '''indumentária''' é alheia às variações de temperatura e está ligada ao '''movimento''' e à luta entre os sexos.
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alguns trajes se destinavam a '''esconder o corpo''' pela '''rigidez e imobilidade'''.
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a mulher era inicialmente '''paralisada''' da cintura para baixo. o uso da '''saia apertada''' é uma sobrevivência dessas amarras antigas que visariam '''impedir a locomoção''', fixando-a.
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o uso das '''calças''' obedece às necessidades, sempre crescentes, de '''proteger''' as pontas do corpo responsáveis pelo '''movimento'''.
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o feminismo se desenvolve com a conquista, pela mulher, dos '''movimentos da parte inferiror do corpo''', isto é, com o movimento das amarras que impedem esses movimentos.
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é pelo '''movimento em defesa do corpo''' que a idumentária se altera e é com o advento da confirmação do '''simbolismo místico''' no '''traje religioso''' no século ix que as classes hierárquicas na igreja começam a distinguir-se pelo traje - quanto mais alta a classe hierárquica, maior o número de peças no traje. isto significa: quanto mais alta a classe hierarquica, mais '''isolado''' se torna o corpo do mundo exterior.
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o '''isolamento máximo traz a imobilidade máxima''' à mais alta hierarquia. imobilidade e altura hierárquica se confundem. paradoxalmente, '''a proteção ao movimetno conduz à ausência de movimento'''.
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durante mais de cinquenta anos, um dos recursos do tratamento psiquiátrico era utilizar uma '''camisa de lona resistente''', com as mangas muito compridas e fechadas que eram '''amarradas firmemente''', com cordões. os '''braços e a parte superior do corpo''' ficavam amarrados às costas, '''impedindo movimentos''' violentos e deixando a pessoa '''imobilizada e inofensiva'''.
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'''despojado de suas roupas''' e vestido com as imensas vestimentas da '''instituição'''. as largas roupas o '''impedem''' de perceber as condições do próprio '''corpo'''. '''o espaço ocupado é sempre o mesmo''' - imóvel, caminha em círculos.
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as '''correntes imobilizantes''' do escravo, do prisioneiro e do rei, são aplicadas nas pontas do corpo: a cabeça, os pés e as mãos. a tortura é quase sempre aplicada nas pontas do corpo e são essas pontas que recebem hoje o '''adorno das jóias'''.
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é o '''movimento''' que provoca as grandes alterações na moda e na maneira do ser humano se '''apresentar ao mundo'''. o movimento deu à humanidade '''linguagem e visão geográfica'''.
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sempre houve o desejo de '''impedir''' a liberdade de pensamento que se encontra ligada à liberdade de '''locomoção'''.
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o ser humano do começo '''bailava e chorava''', executando a sua '''linguagem abstrata de gestos''' com os pés e as mãos e assim fazia para atrair a atenção do seu semelhante, comunicando-se com este.
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o '''movimento reflexo''', proveniente do equilíbrio da árvore, quando eliminada a árvore, continuou segurando galhos '''abstratos e ausentes''' em '''estranha e bela gesticulação''', acompanhados de sons monotonais.
  
trajes que se destinavam a '''esconder o corpo''' pela '''rigidez e imobilidade'''.
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da mesma maneira que o canto está antes do som articulado também '''a dança é gerada antes do movimento articulado metronomizado e esteriotipado da vida diária'''.
  
durante mais de cinquenta anos, um dos recursos do tratamento psiquiátrico era utilizar uma '''camisa de lona resistente''', com as mangas muito compridas e fechadas que eram '''amarradas firmemente''', com cordões. os braços e a parte superior do corpo ficavam amarrados às costas, '''impedindo movimentos''' violentos e deixando o paciente '''imobilizado e inofensivo'''.
 
  
ele é despojado de suas roupas e vestido com as '''imensas vestimentas''' da instituição. as largas roupas o '''impedem''' de perceber as condições do próprio corpo. '''o espaço ocupado é sempre o mesmo''' - imóvel, caminha em círculos.
 
  
 
[[Arquivo: camisa de força.png]]
 
[[Arquivo: camisa de força.png]]

Edição das 17h50min de 16 de janeiro de 2015

flores movem suas cabeças contra a janela

a proposta de investigar a imobilidade parte de processos criativos desenvolvidos com o corpo em suas possibilidades de mover, fragmentar, relacionar, e estar em limite, abrindo novos processos de subjetivação.

a imobilidade faz parte do mover, ela nunca é absoluta. o corpo passa por diversos e intensos processos de movimento, mesmo quando está visivelmente parado. a proposta busca um diálogo entre o invisível móvel e o visível imóvel – quais as distâncias e proximidades existentes entre esses dois estados? como uma coisa afeta a outra?

abrir a percepção para a imobilidade amplia as possibilidades de movimento.

aliados a esta pesquisa com/no corpo, estão a imagem (especialmente fotografia e vídeo) e a roupa (a costura). processos de criação em torno dessas questões vem sendo desenvolvidos, e todas essas coisas se relacionam e intercessionam. em flores movem suas cabeças contra a janela, a pesquisa com a indumentária entra nesse diálogo com a imobilidade.

...

a imobilidade corporal, promovida por mecanismos neurais ativos que suspendem a emissão de atividade motora dos músculos esqueléticos, é uma manifestação comportamental compartilhada por inúmeras espécies animais. assim, é possível observá-la durante o sono da maioria das espécies, nos filhotes de mamíferos quando suspensos pela pele dorsal do pescoço pelas mães que os transportam nos dentes, em predadores durante a espreita para emboscar uma presa, em vários animais em situações de alerta ou medo, em animais que mimetizam elementos inanimados do ambiente e em outras situações mais específicas, tal como nas fêmeas de muitas espécies durante a cópula. a ampla variedade de situações, a vasta gama topográfica das posturas de imobilidade e o número de espécies em que ela ocorre levaram a cunhar o termo respostas de imobilidade para designá-las em conjunto.

estas imobilidades têm funções adaptativas diferentes.

discute-se se existe uma resposta de imobilidade fundamental com expressões diferentes, induzida por uma série de estímulos diferentes e segundo a espécie considerada, ou se existem diferentes formas de imobilidade com diferentes características em cada espécie e diferentes formas de imobilidade coexistam em uma mesma espécie.

a imobilidade pertence à categoria de comportamentos de defesa, precedida inicialmente por emissão de comportamentos de enfrentamento e são respostas evocadas por uma situação de estresse.

a imobilidade se instala após período inicial de emissão intensa de tentativas de evasão da situação estressante e aversiva.

a inescapabilidade nestas situações é uma possibilidade e a emissão de imobilidade, após um período de enfrentamento ativo, pode ter a função de conservação de energia para gasto em condições mais favoráveis, ou ser manifestação de um estado depressivo que evoluiu filogeneticamente para tornar indiferente o sofrimento da morte em condições adversas extremas


Imobilidade animal.jpg

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a origem da indumentária é alheia às variações de temperatura e está ligada ao movimento e à luta entre os sexos.

alguns trajes se destinavam a esconder o corpo pela rigidez e imobilidade.

a mulher era inicialmente paralisada da cintura para baixo. o uso da saia apertada é uma sobrevivência dessas amarras antigas que visariam impedir a locomoção, fixando-a.

o uso das calças obedece às necessidades, sempre crescentes, de proteger as pontas do corpo responsáveis pelo movimento.

o feminismo se desenvolve com a conquista, pela mulher, dos movimentos da parte inferiror do corpo, isto é, com o movimento das amarras que impedem esses movimentos.

é pelo movimento em defesa do corpo que a idumentária se altera e é com o advento da confirmação do simbolismo místico no traje religioso no século ix que as classes hierárquicas na igreja começam a distinguir-se pelo traje - quanto mais alta a classe hierárquica, maior o número de peças no traje. isto significa: quanto mais alta a classe hierarquica, mais isolado se torna o corpo do mundo exterior.

o isolamento máximo traz a imobilidade máxima à mais alta hierarquia. imobilidade e altura hierárquica se confundem. paradoxalmente, a proteção ao movimetno conduz à ausência de movimento.

durante mais de cinquenta anos, um dos recursos do tratamento psiquiátrico era utilizar uma camisa de lona resistente, com as mangas muito compridas e fechadas que eram amarradas firmemente, com cordões. os braços e a parte superior do corpo ficavam amarrados às costas, impedindo movimentos violentos e deixando a pessoa imobilizada e inofensiva.

despojado de suas roupas e vestido com as imensas vestimentas da instituição. as largas roupas o impedem de perceber as condições do próprio corpo. o espaço ocupado é sempre o mesmo - imóvel, caminha em círculos.

as correntes imobilizantes do escravo, do prisioneiro e do rei, são aplicadas nas pontas do corpo: a cabeça, os pés e as mãos. a tortura é quase sempre aplicada nas pontas do corpo e são essas pontas que recebem hoje o adorno das jóias.

é o movimento que provoca as grandes alterações na moda e na maneira do ser humano se apresentar ao mundo. o movimento deu à humanidade linguagem e visão geográfica.

sempre houve o desejo de impedir a liberdade de pensamento que se encontra ligada à liberdade de locomoção.

o ser humano do começo bailava e chorava, executando a sua linguagem abstrata de gestos com os pés e as mãos e assim fazia para atrair a atenção do seu semelhante, comunicando-se com este.

o movimento reflexo, proveniente do equilíbrio da árvore, quando eliminada a árvore, continuou segurando galhos abstratos e ausentes em estranha e bela gesticulação, acompanhados de sons monotonais.

da mesma maneira que o canto está antes do som articulado também a dança é gerada antes do movimento articulado metronomizado e esteriotipado da vida diária.


Camisa de força.png