Raphael Fonseca + Mariana Katona

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projeto

Desde 2011, Mariana Katona Leal realiza vídeos em que confronta recortes de paisagem com uma folha de vidro sobre uma mesa. Uma câmera de vídeo instalada abaixo do vidro registra esse recorte. A confrontar essa dimensão técnica da imagem, com o auxílio de pincel e tinta, a artista pinta no vidro, acima da imagem sobreposta da natureza. Podemos considerar estes vídeos como registros da realização de pinturas de paisagem. Este ato pode ser interpretado como dentro da tradição da pintura à plein air (“ao ar livre”, como batizada no Brasil) explorada pelos artistas impressionistas; era preciso substituir a criação de uma paisagem projetada dentro do ateliê para a representação da experiência direta do artista com a natureza enquanto fenômeno.

O que diferencia a proposta da artista é, primeiramente, a utilização do vídeo, ou seja, uma pintura ao ar livre que apenas existirá como vídeo. Após a concretização das pinceladas, a desconstruir qualquer pretensão de nostalgia e a refletir sobre a efemeridade contemporânea na relação entre homem e natureza, a artista lança sobre a superfície de vidro uma mistura de água e substancias efervescentes. Pouco a pouco, a tinta retida sobre o vidro se desintegra e cria uma mancha que impossibilita a fruição da imagem anterior. A cópia do real se transforma em uma pintura mais próxima da abstração. A harmonia visual cede espaço para uma deterioração anticlássica e nos perguntamos: como pensar a relação entre homem e natureza na contemporaneidade?

Nesta auto-residência, em vez de explorar a vegetação arbórea, os objetos de estudo serão as cachoeiras presentes entre Visconde de Mauá, Maromba e Maringá. As quedas d’água criam fascínio na produção artística desde a tradição clássica, mas com especial destaque para os artistas do século XIX. Não são poucos os exemplos de pinturas realizadas, por exemplo, no Rio de Janeiro, após a chegada da Missão Artística Francesa, em que os pintores tentam “dominar” e transformar a água movente (tida como a natureza em estado “selvagem” de atividade) em uma pintura.

Além da produção de vídeos, os vidros, superfícies destas pinturas, serão transformados em objetos finais desta vivência artística. Mesmo com a ação deteriorante sobre a tinta, parte do vidro ainda retém vestígios paisagísticos das pinceladas da artista. Deste modo, eles se tornam lembranças da intenção de se representar uma paisagem.