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A cópia - manual, caligráfica, cursiva - como tecnologia educacional.
 
A cópia - manual, caligráfica, cursiva - como tecnologia educacional.
  
A proposta original chamava-schamava-se "re-inscrevendo a história da arte da performance". Venho tenho realizado alguns trabalhos problematizando a historiografia da arte da performance, problematizando os modos de realizar essas narrativas – propondo historiografias mais encarnadas, mais sensíveis, menos “narrativas” em sentido estrito, abertas à multiplicidade e, quiçá, aproximadas de “historiografias do sul”. A proposta que encaminho é de realizer a captação de
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A proposta original chamava-se "re-inscrevendo a história da arte da performance". Venho realizando alguns trabalhos problematizando a história da arte da performance, problematizando os modos como essas narrativas são construídas e apresentadas – propondo histórias, em plural, mais encarnadas, sensíveis, menos “narrativas” em sentido estrito, “histórias do sul". Eu pretendia realizer imagens para um video em que eu apareceria copiando, à mão livre, o livro “Arte da performance, do futurismo ao  
imagens para um video em que eu apareça copiando, à mão  
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presente”, de Roselee Goldberg - tomado como um paradigma da dureza e colonialismo dessa história. Eu passaria algumas horas por dia em meio à natureza, instalada a cada dia numa paisagem diferente, copiando esse texto. Esperava copiar
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tanto quanto possível, senão todo ele. Pensava a em copiar com caneta ou lapis sobre o papel de um
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caderno, mas acreditava que poderia fazer alguns experimentos de escrever com materiais colhidos na natureza sobre espaços naturais, sempre registrando as ações, pensando que o video final pudesse mesclar a cópia sobre papel com diversas escritas. Eu mesma realizaria a captação das imagens, com equipamento próprio.
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anterior, quando não pude realizar o projeto que tinha em mente e acabei desenvolvendo um diário. A partir daí, comecei a investigar relações entre performance e escrita caligráfica, e o diário passou a integrar minha produção. A instalação e a performance “Não deixarei a caligrafia perder-se”, realizadas no SESC Palmas em 2013, nasceram
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desse diário da Nuvem.
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O que estou fazendo na Nuvem hoje, então, é uma outra coisa, reunindo essas duas perspectivas - o projeto original e minha experiência anterior aqui. Escolhi aleatoriamente um livro para copiar - no caso, um livro que eu precisava ler por demanda de trabalho, How we teach performance art - e estou copiando, apenas copiando, sem objetivo, em postura de observação cartográfica. Dedico ao menos três horas por dia à cópia, e pelos meus cálculos, precisarei de 60 horas para concluir a transferência (ou recriação gráfica) de todo o texto do livro. Eu me interesso pelas qualidades de atenção que o copiar pode impor ao corpo, pela variação de estados e qualidades de consciência a que a repetição em variação, mediada pela linguagem, pode conduzir.
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Também me interessa refletir sobre o copiar como tecnologia educacional, revendo esse fazer escolar tradicional que vem sendo alvo de muitas críticas no movimento contemporâneo de crítica à escola,  mas que tem efetividade inquestionável na aquisição de algumas habilidades.
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www.thaisenardim.com
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Palmas, Tocantins.

Edição atual tal como às 12h31min de 27 de janeiro de 2015

A cópia - manual, caligráfica, cursiva - como tecnologia educacional.

A proposta original chamava-se "re-inscrevendo a história da arte da performance". Venho realizando alguns trabalhos problematizando a história da arte da performance, problematizando os modos como essas narrativas são construídas e apresentadas – propondo histórias, em plural, mais encarnadas, sensíveis, menos “narrativas” em sentido estrito, “histórias do sul". Eu pretendia realizer imagens para um video em que eu apareceria copiando, à mão livre, o livro “Arte da performance, do futurismo ao presente”, de Roselee Goldberg - tomado como um paradigma da dureza e colonialismo dessa história. Eu passaria algumas horas por dia em meio à natureza, instalada a cada dia numa paisagem diferente, copiando esse texto. Esperava copiar tanto quanto possível, senão todo ele. Pensava a em copiar com caneta ou lapis sobre o papel de um caderno, mas acreditava que poderia fazer alguns experimentos de escrever com materiais colhidos na natureza sobre espaços naturais, sempre registrando as ações, pensando que o video final pudesse mesclar a cópia sobre papel com diversas escritas. Eu mesma realizaria a captação das imagens, com equipamento próprio.

Participei da Residência de Verão da Nuvem em 2013 e apesar de ter sido bem breve, a experiência foi muito proveitosa. A ideia para este projeto nasceu dessa experiência anterior, quando não pude realizar o projeto que tinha em mente e acabei desenvolvendo um diário. A partir daí, comecei a investigar relações entre performance e escrita caligráfica, e o diário passou a integrar minha produção. A instalação e a performance “Não deixarei a caligrafia perder-se”, realizadas no SESC Palmas em 2013, nasceram desse diário da Nuvem.

O que estou fazendo na Nuvem hoje, então, é uma outra coisa, reunindo essas duas perspectivas - o projeto original e minha experiência anterior aqui. Escolhi aleatoriamente um livro para copiar - no caso, um livro que eu precisava ler por demanda de trabalho, How we teach performance art - e estou copiando, apenas copiando, sem objetivo, em postura de observação cartográfica. Dedico ao menos três horas por dia à cópia, e pelos meus cálculos, precisarei de 60 horas para concluir a transferência (ou recriação gráfica) de todo o texto do livro. Eu me interesso pelas qualidades de atenção que o copiar pode impor ao corpo, pela variação de estados e qualidades de consciência a que a repetição em variação, mediada pela linguagem, pode conduzir.

Também me interessa refletir sobre o copiar como tecnologia educacional, revendo esse fazer escolar tradicional que vem sendo alvo de muitas críticas no movimento contemporâneo de crítica à escola, mas que tem efetividade inquestionável na aquisição de algumas habilidades.


www.thaisenardim.com

Palmas, Tocantins.