Mudanças entre as edições de "Tais Lobo"

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Creio que através desse processo de experimentação de linguagens corporais e audiovisuais, experimenta-se também o distanciamento crítico e a confrontação de nossas próprias reproduções estéticas e comportamentais, de maneira que códigos culturais nos são revelados, desautomatizados e, assim, rescritos. Em outras palavras, acredito que essa seja uma das formas de (re)apropriar-se de tecnologias e códigos que, quase invisivelmente, compõe nossa constituição política e cultural: tecnologias audiovisuais, de gênero e de sexualidade. Por fim, a ideia é des-criar, desconstruir, observar os escombros e reciclar o que nos serve - re-criar-se.
 
Creio que através desse processo de experimentação de linguagens corporais e audiovisuais, experimenta-se também o distanciamento crítico e a confrontação de nossas próprias reproduções estéticas e comportamentais, de maneira que códigos culturais nos são revelados, desautomatizados e, assim, rescritos. Em outras palavras, acredito que essa seja uma das formas de (re)apropriar-se de tecnologias e códigos que, quase invisivelmente, compõe nossa constituição política e cultural: tecnologias audiovisuais, de gênero e de sexualidade. Por fim, a ideia é des-criar, desconstruir, observar os escombros e reciclar o que nos serve - re-criar-se.
  
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(aquela mesma descrita por Oswald de Andrade & praticada pelas Amazonas Sudakas)
 
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Comer comidas de ótima qualidade.
 
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Edição das 21h14min de 7 de abril de 2012

NA TEORIA: PROPOSTA

De acordo com a pesquisa que venho realizando em torno das sexualidades e do erotismo não-hegemônicos, e com o tema sugerido por este programa de auto-residência, ou seja, “Corpo, Feminismo e Tecnologia - livres”, proponho um trabalho, multimídia e colaborativo, que consiste em auto-registros videográficos obscenos ou auto-pornografia, apenas. Trata-se de um trabalho de investigação de novas linguagens (semânticas e sintáticas) audiovisuais, na tentativa de desenvolver outros dispositivos de desconstrução e recriação, no caso, da mulher e do erotismo.

Considerando que os dois maiores (ainda que ocultos) sustentáculos da estética e do pensamento hegemônicos sejam o gênero e a sexualidade, cujos maiores suportes de representação e difusão são o vídeo e a web (tecnologias chave na construção das identidades e na produção das subjetividades), tendo em vista os novos rumos da pornografia audiovisual, desde uma perspectiva feminista, constituída pela pós-pornografia e seu combo de ativismo político-artístico dela derivados e nela imersos (concentrados, principalmente, nos países do Norte), e considerando que tudo estar por construir, principalmente em um ambiente propício à antropofagia e praticante da mesma, ou seja, a América do Sul, parece-me de suma importância que as gramáticas da representação audiovisual e suas tecnologias sejam, não apenas apropriadas (pois já o são), mas também rescritas por mulheres, distintas entre si, à partir de suas singulares experiências de vida.

A ativação do trabalho será a questão, “Como seria a sua pornografia?”. A resposta se materializará através de recursos e equipamentos disponíveis no espaço Nuvem (projetor, câmera, computadores, web e webcam), imagens de arquivo e materiais outros de uso pessoal, como câmeras de celulares, cybershot e qualquer outra tecnologia portátil. E, é claro, utilizando-se dos corpos e das idéias daquelxs que participarão do projeto, já que se trata de um projeto colaborativo.

Creio que através desse processo de experimentação de linguagens corporais e audiovisuais, experimenta-se também o distanciamento crítico e a confrontação de nossas próprias reproduções estéticas e comportamentais, de maneira que códigos culturais nos são revelados, desautomatizados e, assim, rescritos. Em outras palavras, acredito que essa seja uma das formas de (re)apropriar-se de tecnologias e códigos que, quase invisivelmente, compõe nossa constituição política e cultural: tecnologias audiovisuais, de gênero e de sexualidade. Por fim, a ideia é des-criar, desconstruir, observar os escombros e reciclar o que nos serve - re-criar-se.

NA PRÁTICA: ANTROPOFAGIA ICAMIABA

Autoporno LUNA 01.png

Autoporno tais 04.png

Autoporno karen 02.png

Autoporno tais 01.png

(aquela mesma descrita por Oswald de Andrade & praticada pelas Amazonas Sudakas)

Convém, no entanto, rememorar os termos - utilizando-se, é claro, da maravilhosa máquina de explicações sintéticas que é a Wikipedia:

Antropofagia

Manifesto Antropofágico

Amazonas

Icamiabas

Sudaka(o) é um termo criado pelos gringos - estadunidenses e europeus - para referir-se a quem habita terras sul-americanas. A princípio, um insulto, mas que já foi estrategicamente re-apropriado pelo ativismo político e artístico da América do Sul.

Comer é alimentar-se, nutrir-se - e nestas terras é também copular -> termo, aliás, sempre muito empregado pelas subjetividades biocabramachos disseminadas por aqui. No entanto, entre xs possuidorxs de cavidades vaginais - e outras tantas cavidades activas-passivas-activas - é muito claro que se os orifícios engolem, são eles os agentes comedores. Se assim é, a antropofagia começa por todos os nossos buracos - as pupilas, as narinas, a boca, o ânus, a boceta, a uretra, os poros, o ouvido, os chakras.

NA NUVEM: (re)ENCONTROS - RETROALIMENTAÇÕES

a nuvem foi a primeira parada neste retorno ao brasil.

Retornar ao nível do mar, costa atlântica tropicana, um pouco mais prá dentro, onde até as montanhas também são mar- de morros.Voltar ao brasil depois de dois anos vivendo no país temperado vizinho do sul - em buenos aires, a cidade que virou as costas para o rio, e por isso mesmo fica ainda mais temperada. Eu não sou daqui, tampoco de allá, mas retornar aos ares que primeiro respiramos é um bom mareio. E lá, com mais clareza, descobri o daqui em mim.

Ainda lá, iniciei com duas amigas este projeto de auto-pornografia.

Muito antes de começá-lo já comia-bebia de algumas fontes, sobretudo dos livros da filósofa espanhola Beatriz Preciado e do trabalho da artista, também espanhola, María LLopis, que desenvolve já há algum tempo um excelente e exemplar projeto de porno hazlo-tú-misma, ou seja, "pornô-faça-você-mesma". E mais antes disso ainda, no início da carreira de cinema - do contato com os trabalhos de Maya Deren- e nas minha primeiras experiências de auto-representação do corpo e da sexualidade, com vídeo, comecei a questionar o estatuto e as formas de representação das mulheres nos meios audiovisuais hegemônicos. De então, bem nutrida, mas ainda cheia de fome, nasce a PROPOSTA acima, que foi bem-aceita por essas duas amigas-colombianas-residentes-porteñas.

Só que restavam muitas dúvidas de como seria o mesmo processo nesta residência. Das dúvidas, as trocas: a tinta de terra da serra da mantiqueira, objeto de pesquisa da artista [Luzia de Mendonça]. Uma terra vermelha sob o corpo - cor da cabocla icamiaba, o rubro que constrói novos (auto)prazeres no meio do mato verde. O não-silêncio dos (auto)prazeres-desejos de [Luísa]. A experimentação de outras linguagens, novas comunicações e relações com o meio e os afetos, e o suporte tecnológico e suas (re)apropriações e a experimentação de si e os cruzamentos de tanta experimentação, de tanta tecnologia, de tanta linguagem. Um ouvido que ouve com os dedos. Uma boca que chupa um pé, que pode penetrar e que pode ser penetrado, que é fálico e fenda ao mesmo tempo.

Troca e retroalimentaçao. Sair do jogo: raspar o cabelo coletivamente e usá-lo para a compostagem das terras da horta.

Comer comidas de ótima qualidade.