Mudanças entre as edições de "Tais Lobo"

De wiki da nuvem
Ir para: navegação, pesquisa
(Criou página com 'PROPOSTA De acordo com a pesquisa que venho realizando em torno das sexualidades e do erotismo não-hegemônicos, e com o tema sugerido por este programa de auto-residência,...')
 
Linha 1: Linha 1:
PROPOSTA
+
NA TEORIA: PROPOSTA
  
 
De acordo com a pesquisa que venho realizando em torno das sexualidades e do erotismo não-hegemônicos, e com o tema sugerido por este programa de auto-residência, ou seja, “Mulher, Corpo e Tecnologia”, proponho um trabalho, multimídia e colaborativo, que consiste em auto-registros videográficos obscenos ou auto-pornografia, apenas. Trata-se de um trabalho de investigação de novas linguagens (semânticas e sintáticas) audiovisuais, na tentativa de desenvolver outras gramáticas de representação, neste caso, da mulher e do erotismo.   
 
De acordo com a pesquisa que venho realizando em torno das sexualidades e do erotismo não-hegemônicos, e com o tema sugerido por este programa de auto-residência, ou seja, “Mulher, Corpo e Tecnologia”, proponho um trabalho, multimídia e colaborativo, que consiste em auto-registros videográficos obscenos ou auto-pornografia, apenas. Trata-se de um trabalho de investigação de novas linguagens (semânticas e sintáticas) audiovisuais, na tentativa de desenvolver outras gramáticas de representação, neste caso, da mulher e do erotismo.   
Linha 27: Linha 27:
 
[http://pt.wikipedia.org/wiki/Icamiabas Icamiabas]
 
[http://pt.wikipedia.org/wiki/Icamiabas Icamiabas]
  
Sudaka(o) é um termo criado pelos gringos - estadunidenses e europeus - para referir-se a quem habita terras sul-americanas. A princípio, um insulto, mas que já foi estrategicamente re-apropriado pelo ativismo político e artístico da América do Sul.
+
[[Sudaka(o)]] é um termo criado pelos gringos - estadunidenses e europeus - para referir-se a quem habita terras sul-americanas. A princípio, um insulto, mas que já foi estrategicamente re-apropriado pelo ativismo político e artístico da América do Sul.
  
Comer é alimentar-se, nutrir-se - e nestas terras é também copular -> termo, aliás, sempre muito utilizado pelas subjetividades biocabramachos disseminadas por aqui. No entanto, entre xs possuidorxs de cavidades vaginais - e outras tantas cavidades activas-passivas-activas - é muito claro que se os orifícios engolem, são eles os agentes comedores. Se assim é, a antropofagia começa por todos os nossos buracos - as pupilas, as narinas, a boca, o ânus, a boceta, a uretra, os poros, o ouvido, os chakras.
+
[[Comer]] é alimentar-se, nutrir-se - e nestas terras é também copular -> termo, aliás, sempre muito empregado pelas subjetividades biocabramachos disseminadas por aqui. No entanto, entre xs possuidorxs de cavidades vaginais - e outras tantas cavidades activas-passivas-activas - é muito claro que se os orifícios engolem, são eles os agentes comedores. Se assim é, a antropofagia começa por todos os nossos buracos - as pupilas, as narinas, a boca, o ânus, a boceta, a uretra, os poros, o ouvido, os chakras.
 +
 
 +
NA NUVEM: (re)ENCONTROS - RETROALIMENTAÇÕES
 +
 
 +
a nuvem foi a primeira parada neste retorno ao brasil.
 +
 
 +
Retornar ao nível do mar, costa atlântica tropicana, um pouco mais prá dentro, onde até as montanhas também são mar-
 +
de morros.Voltar ao brasil depois de dois anos vivendo no país temperado vizinho do sul - em buenos aires, a cidade que virou as costas para o rio, e por isso mesmo fica ainda mais temperada. Eu não sou daqui, tampoco de allá, mas retornar aos ares que primeiro respiramos é um bom mareio. E lá, com mais clareza, descobri o daqui em mim.
 +
 
 +
Ainda lá, iniciei com duas amigas este projeto de auto-pornografia.
 +
 
 +
Muito antes de começá-lo já comia-bebia de algumas fontes, sobretudo dos livros da filósofa espanhola Beatriz Preciado e do trabalho da artista, também espanhola, [http://www.mariallopis.com/ María LLopis], que desenvolve já há algum tempo um excelente e exemplar projeto de [http://www.elmundo.es/elmundo/2010/05/24/castellon/1274695943.html porno hazlo-tú-misma], ou seja, "pornô-faça-você-mesma". E mais antes disso ainda, no início da carreira de cinema - do contato com os trabalhos de [http://video.google.com/videoplay?docid=4002812108181388236 Maya Deren]- e nas minha primeiras experiências de auto-representação do corpo e da sexualidade, com vídeo, comecei a questionar o estatuto e as formas de representação das mulheres nos meios audiovisuais hegemônicos. De então, bem nutrida, mas ainda cheia de fome, nasce a PROPOSTA acima, que foi bem-aceita por essas duas amigas-colombianas-residentes-porteñas.
 +
 
 +
Só que restavam muitas dúvidas de como seria o mesmo processo nesta residência.
 +
Das dúvidas, as trocas:
 +
a tinta de terra da serra da mantiqueira, objeto de pesquisa da artista [[http://192.168.1.10/wiki/index.php/Luzia_de_Mendon%C3%A7a Luzia de Mendonça]]. Uma terra vermelha sob o corpo - cor da cabocla icamiaba, o rubro que constrói novos (auto)prazeres
 +
no meio do mato verde.
 +
O não-silêncio dos (auto)prazeres-desejos de [[http://192.168.1.10/wiki/index.php/Lu%C3%ADsa_N%C3%B3brega Luísa]]. A experimentação de outras linguagens, novas comunicações e relações com o meio e os afetos, e o suporte tecnológico e suas (re)apropriações e a experimentação de si e os cruzamentos de tanta experimentação, de tanta tecnologia, de tanta linguagem. Um ouvido que ouve com os dedos.
 +
Uma boca que chupa um pé, que pode penetrar e que pode ser penetrado, que é fálico e fenda ao mesmo tempo.
 +
 
 +
Troca e retroalimentaçao.
 +
Sair do jogo: raspar o cabelo coletivamente e usá-lo para a compostagem das terras da horta.
 +
 
 +
Comer comidas de ótima qualidade.

Edição das 06h25min de 2 de fevereiro de 2012

NA TEORIA: PROPOSTA

De acordo com a pesquisa que venho realizando em torno das sexualidades e do erotismo não-hegemônicos, e com o tema sugerido por este programa de auto-residência, ou seja, “Mulher, Corpo e Tecnologia”, proponho um trabalho, multimídia e colaborativo, que consiste em auto-registros videográficos obscenos ou auto-pornografia, apenas. Trata-se de um trabalho de investigação de novas linguagens (semânticas e sintáticas) audiovisuais, na tentativa de desenvolver outras gramáticas de representação, neste caso, da mulher e do erotismo.

Considerando que os dois maiores (ainda que ocultos) sustentáculos da estética e do pensamento hegemônicos sejam o gênero e a sexualidade, cujos maiores suportes de representação e difusão são o vídeo e a web (tecnologias chave na construção das identidades e na produção das subjetividades), tendo em vista os novos rumos da pornografia audiovisual, desde uma perspectiva feminista, constituída pela pós-pornografia e seu combo de ativismo político-artístico dela derivados e nela imersos (concentrados, principalmente, nos países do Norte), e considerando que tudo estar por construir, principalmente em um ambiente propício à antropofagia e praticante da mesma, ou seja, a América do Sul, parece-me de suma importância que as gramáticas da representação audiovisual e suas tecnologias sejam, não apenas apropriadas (pois já o são), mas também rescritas por mulheres, distintas entre si, à partir de suas singulares experiências de vida.

A ativação deste trabalho será uma questão feita às colaboradoras da pesquisa, a dizer: “Como seria a sua pornografia?”. A resposta a essa pergunta deverá ser materializada utilizando-se de recursos e equipamentos disponíveis no espaço Nuvem (projetor, câmera, computadores, web e webcam), somado ao material complementar que pretendo levar, como o tacho de luz e lençóis brancos utilizados no teatro de sombras, software de edição ao vivo, para instalação (Resolumen ou Arkaos), imagens de arquivo e materiais outros de uso pessoal (meu e dxs demais residentes), como câmeras de celulares, cybershot e qualquer outra tecnologia portátil. E, é claro, utilizando-se dos corpos e das idéias daquelxs que participarão do projeto, já que se trata de um projeto colaborativo.

Além disso, através do livestream/teleconferência, pretendo conectar artistas amigxs geograficamente distantes (sob aviso prévio), axs residentes do espaço Nuvem, projetando em livestream a performance e o recorte auto-pornográfico dessxs outrxs artistas latino-americanxs. Essa e outras projeções (de sombras, de material de arquivo e/ou gravadas simultaneamente à performance) podem servir como material para intervenção, usando o nosso próprio corpo como suporte da projeção, e mais outras plataformas, como paredes, faixadas, lençóis suspensos em árvores, etc. O mais importante, no caso, seria a interação dxs residentes e a (re)apropriação que se fará de nossos corpos e das mídias disponíveis.

Este trabalho será registrado com uma câmera de melhor qualidade, com o intuito de documentar o processo e armar um compilado de todas as formas de expressão que florescerem.

Creio que através desse processo de experimentação de linguagens corporais e audiovisuais, experimenta-se também o distanciamento crítico e a confrontação de nossas próprias reproduções estéticas e comportamentais, de maneira que códigos culturais nos são revelados, desautomatizados e, assim, rescritos. Em outras palavras, acredito que essa seja uma das formas de (re)apropriar-se de tecnologias e códigos que, quase invisivelmente, compõe nossa constituição política e cultural: tecnologias audiovisuais, de gênero e de sexualidade. Por fim, a ideia é desconstruir, observar os escombros e reciclar o que nos serve.

NA PRÁTICA: ANTROPOFAGIA ICAMIABA

(aquela mesma descrita por Oswald de Andrade & praticada pelas Amazonas Sudakas)

Convém, no entanto, rememorar os termos - utilizando-se, é claro, da maravilhosa máquina de explicações sintéticas que é a Wikipedia:

Antropofagia

Manifesto Antropofágico

Amazonas

Icamiabas

Sudaka(o) é um termo criado pelos gringos - estadunidenses e europeus - para referir-se a quem habita terras sul-americanas. A princípio, um insulto, mas que já foi estrategicamente re-apropriado pelo ativismo político e artístico da América do Sul.

Comer é alimentar-se, nutrir-se - e nestas terras é também copular -> termo, aliás, sempre muito empregado pelas subjetividades biocabramachos disseminadas por aqui. No entanto, entre xs possuidorxs de cavidades vaginais - e outras tantas cavidades activas-passivas-activas - é muito claro que se os orifícios engolem, são eles os agentes comedores. Se assim é, a antropofagia começa por todos os nossos buracos - as pupilas, as narinas, a boca, o ânus, a boceta, a uretra, os poros, o ouvido, os chakras.

NA NUVEM: (re)ENCONTROS - RETROALIMENTAÇÕES

a nuvem foi a primeira parada neste retorno ao brasil.

Retornar ao nível do mar, costa atlântica tropicana, um pouco mais prá dentro, onde até as montanhas também são mar- de morros.Voltar ao brasil depois de dois anos vivendo no país temperado vizinho do sul - em buenos aires, a cidade que virou as costas para o rio, e por isso mesmo fica ainda mais temperada. Eu não sou daqui, tampoco de allá, mas retornar aos ares que primeiro respiramos é um bom mareio. E lá, com mais clareza, descobri o daqui em mim.

Ainda lá, iniciei com duas amigas este projeto de auto-pornografia.

Muito antes de começá-lo já comia-bebia de algumas fontes, sobretudo dos livros da filósofa espanhola Beatriz Preciado e do trabalho da artista, também espanhola, María LLopis, que desenvolve já há algum tempo um excelente e exemplar projeto de porno hazlo-tú-misma, ou seja, "pornô-faça-você-mesma". E mais antes disso ainda, no início da carreira de cinema - do contato com os trabalhos de Maya Deren- e nas minha primeiras experiências de auto-representação do corpo e da sexualidade, com vídeo, comecei a questionar o estatuto e as formas de representação das mulheres nos meios audiovisuais hegemônicos. De então, bem nutrida, mas ainda cheia de fome, nasce a PROPOSTA acima, que foi bem-aceita por essas duas amigas-colombianas-residentes-porteñas.

Só que restavam muitas dúvidas de como seria o mesmo processo nesta residência. Das dúvidas, as trocas: a tinta de terra da serra da mantiqueira, objeto de pesquisa da artista [Luzia de Mendonça]. Uma terra vermelha sob o corpo - cor da cabocla icamiaba, o rubro que constrói novos (auto)prazeres no meio do mato verde. O não-silêncio dos (auto)prazeres-desejos de [Luísa]. A experimentação de outras linguagens, novas comunicações e relações com o meio e os afetos, e o suporte tecnológico e suas (re)apropriações e a experimentação de si e os cruzamentos de tanta experimentação, de tanta tecnologia, de tanta linguagem. Um ouvido que ouve com os dedos. Uma boca que chupa um pé, que pode penetrar e que pode ser penetrado, que é fálico e fenda ao mesmo tempo.

Troca e retroalimentaçao. Sair do jogo: raspar o cabelo coletivamente e usá-lo para a compostagem das terras da horta.

Comer comidas de ótima qualidade.