Mariana Katona + Raphael Fonseca

De wiki da nuvem
Revisão de 20h50min de 5 de fevereiro de 2012 por Marirapha (Discussão | contribs) (projeto)

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projeto

Desde 2011, Mariana Katona Leal realiza vídeos em que confronta recortes de paisagem através do registro em vídeo. A confrontar essa dimensão técnica da imagem, com o auxílio de pincel e tinta, a artista pinta acima da imagem sobreposta da natureza. Podemos considerar estes vídeos como registros da realização de pinturas de paisagem.

Este ato pode ser interpretado como dentro da tradição da pintura à plein air (“ao ar livre”, como batizada no Brasil) explorada pelos artistas impressionistas; era preciso substituir a criação de uma paisagem projetada dentro do ateliê para a representação da experiência direta do artista com a natureza enquanto fenômeno.


Ao ar livre processo 1.jpg


Arquivo:Ao ar livre processo 2.jpg


O que diferencia a proposta da artista é, primeiramente, a utilização do vídeo, ou seja, uma pintura ao ar livre que apenas existirá como vídeo. Após a concretização das pinceladas, a desconstruir qualquer pretensão de nostalgia e a refletir sobre a efemeridade contemporânea na relação entre homem e natureza, a artista inicia um processo de deterioração sobre a superfície do vidro. Pouco a pouco, a tinta retida sobre o vidro se desintegra e cria uma mancha que modifica a fruição da imagem anterior. A cópia do real se transforma em uma pintura mais próxima da abstração. A harmonia visual cede espaço para uma deterioração anticlássica e nos perguntamos: como pensar a relação entre homem e natureza na contemporaneidade?

A princípio, os objetos de estudo desta auto-residência eram as cachoeiras presentes entre Visconde de Mauá, Maromba e Maringá devido ao fascínio provocado por elas desde a produção artística da tradição clássica, com especial destaque para os artistas do século XIX. Não são poucos os exemplos de pinturas realizadas, por exemplo, no Rio de Janeiro, após a chegada da Missão Artística Francesa, em que os pintores tentam “dominar” e transformar a água movente (tida como a natureza em estado “selvagem” de atividade) em uma pintura.

De todo modo, mesmo com este enfoque primeiro para esta residência, o contato com outros residentes e com os acasos dos momentos de realização do trabalho, não impediram que outros dois elementos fossem explorados: o corpo feminino, tal qual um modelo vivo em movimento, e a paisagem montanhosa dessa região geográfica que é uma espécie de interseção entre os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

Além da produção de vídeos, os vidros, superfícies destas pinturas, foram transformados em objetos finais desta vivência artística. Mesmo com a ação deteriorante sobre a tinta, parte do vidro ainda retém vestígios paisagísticos das pinceladas da artista. Deste modo, eles se tornam lembranças do gesto de se representar uma paisagem.


processo

Colocar em cheque seu corpo na paisagem e revelar seu gesto enquanto é copiada;

em extensão na paisagem.


A destruição da paisagem e do corpo, o gesto que desfaz a pintura e revela a soma, o que é escondido pela textura das tintas que forma uma terceira coisa, a pintura que é destruída que revela um somatório de experiências ligadas à textura da paisagem e a pintura. Uma mistura de textura e perspectiva aliada à câmera. Há aqui um confronto entre as cores da paisagem e dos pigmentos pictóricos.