Luísa Nóbrega

De wiki da nuvem
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.primeiro dia.

tentar entender o que tecnologia é. um assunto que em princípio deixo de lado como algo que nao me diz respeito. e no entanto, minha vida é mediada por próteses e aparelhos. vim para cá com apenas uma lente de contato, nada mais do que um aparelho auditivo. colecionando assimetrias. a correçao é imperfeita, mas de algum modo me basta. como se nao precisasse ver e ouvir demais. o que sao, afinal, as minhas próteses? às vezes nao sei se elas me fazem mais forte ou mais vulnerável. sao discretas, semi-invisíveis. quase silenciosas. a nao ser quando um braço, um rosto ou uma almofada de encontro ao ouvido fazem um apito soar, ou eu adormeço sem que as lentes descansem no soro e acordo com os olhos secos, avermelhados, ardidos. alguém me fala de satélites e cartografias. um texto fala da tecnologia como mimesis, como se fotografássemos do mesmo modo como os antigos criavam figuras rupestres. e eu me inventei um aparelho para falar como uso desde os três anos de idade aparelhos para ouvir. mas ainda nao sei usá-las, torno-me muda. meu invento é algo tosco, imperfeito. inventei uma prótese desengonçada, desnecessária, visível e explícita. que me perdoem as próteses sofisticadas, versáteis, quase infalíveis que mediam e filtram aquilo que vejo e ouço. a tecnologia transforma meu corpo e torna-o agudo.