Victor Pacheco

Apresentação Provisória

Como amante de miudezas e cacos de histórias, interessam-me as inúmeras vias de invenção que encontramos para pensar a vida cotidiana. A partir do que entendo como modo-artista de estar no mundo, entre brincadeiras, 'experimentações performáticas' ou 'intervenções urbanas' acredito na produção de uma vida mais leve. Esta questão tem me acompanhado há um tempo e envolvido o trabalho junto núcleo de pesquisa ao qual estou vinculado (Laboratório de Imagens da Subjetividade). A produção de “cadernos”, construídos a partir de uma poética dos encontros na cidade, tem sido meu campo problemático. Como livros-objeto, resquícios de tudo o que encontrei e se passou por aí são convocados a compor narrativas de nossas vidas, plásticas e/ou textuais.

Gostaria de propor a investigação a afirmação em nós de um modo-artista de subjetivação, isto é, da gestação do processo criativo a partir da experiência cotidiana (pensada aqui a partir da residência, da convivência, dos afazeres comuns).

As gastações compõem o método exploratório de que eventualmente me utilizo para pensar e incitar experiências/encontros. A fim de insuflar de 'atitudes brincalhonas' a experiência banal, a gastação remete ao termo que se utiliza no estado do Espírito Santo para se referir a todo tipo de brincadeira, zombaria ou investimento afetivo e intelectual de finalidade inútil. Gastar é investir nossas ideias em poéticas 'vazias' e brincadeiras sem fim. É estar desocupado fazendo algo, como 'olhar nuvens a tarde inteira para descobrir novas formas', 'juntar restos de tudo pra produzir plasticidades', etc. A partir dos pequenos movimentos de gastação, a composição dos 'registros' acontece como dobra do pensamento, recolhendo materiais de expressão aleatórios que interessem ou façam pensar ou inserindo em algum suporte (como o papel que fará parte do caderno 'final') as marcas da experiência. Pode ocorrer ao mesmo tempo em que algo acontece ou, às vezes, posteriormente - como desdobramento do que acontece.

Pretendo utilizar os dias da residência para explorar algumas pistas:

-A vida como Arte (há poética em nossos afazeres? em nossos laços?)

-A poética cotidiana como via de criação;

-A convivência/ressonância de processos criativos, no caso de coincidência de datas com outras pessoas;

-Narratividade plástica das experiências /produção de livro-objeto experimental-nuvem.