Raphael Couto

De wiki da nuvem
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Pretendo desenvolver na residência questões tangenciais à minha pesquisa: das relações entre corpo e ambiente a partir de objetos, fragmentos, ruínas (ou corpos mortos) desse espaço. Enquanto artista urbano (com ateliê no centro do Rio de Janeiro), dialogo sempre com ruínas urbanas: tecidos, objetos cotidianos banais, livros, pincéis e etc, que estão num constante diálogo com o corpo, em sobreposições, costurados, devorados, regurgitados, num processo de simbiose estranha, que transita entre o delicado e o agressivo, entre o belo e o grotesco. O trabalho desdobra-se entre a fotografia, o vídeo, a performance e o livro de artista, enquanto elementos de estudos, coletas, aplicações e remoções desse mundo de fragmentos e pequenas coisas do corpo e da cidade. Para a residência, penso nesse universo do rural: de caminhar e dialogar com as ruínas dessa natureza cíclica: das flores mortas, dos galhos, das pedras em diálogo com esse corpo fora do cubo branco; dos diálogos com o rio e com os cadáveres de animais, que atravessam e reorganizam esse corpo em novas frequências e possibilidades. Não proponho um trabalho único final e concluído, mas uma sequência de ações e pesquisas que colocam o corpo nesse lugar outro: estudos, protótipos de livros de artista, videos, anotações, performances... um inventário poético que não seja um olhar externo, mas uma entrada desse corpo-artista na paisagem.


raphaelcouto.com


As ruínas desse espaço-campo talvez não se manifestem como ruínas-objeto, mas ruínas-elemento, espaços dessa natureza cíclica, autorreferenciada, desse monumental que se desfalece e ressurge - o caminho do rio - a direção dos sons - os espaços que convergem e atacam o corpo: o sol, o vento, a chuva, a oscilação de temperaturas - o pedido de relações e de silêncios - e também de isolamentos. As ferramentas de trabalho, o pedido de um desapego e de um esvair-se.

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   As ruínas deixadas pelos outros artistas, o que eu consumo, deixo e transformo. O texto feito a partir de uma imersão e uma reflexão no espaço não-convencional da arte. O deslocar-se da super comunicação urbana para um espaço de comunicação frágil e precária - redução de velocidades - o convívio com outras questões em processo.
   O rio. O rio. Os vestígios e marcas que esse caminho há de deixar. Como bordar o rio ao corpo, como amarrá-lo a mim, se este é fluido e passageiro? Como fundir-me ao que não se funde, mas devora?

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   Há ruínas de passagens, estradas de terra, cinzas. Como pensá-los enquanto objetos? Como pensá-los enquanto corpos, fruições, fundições e texto? 

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    Penso em Mendieta, de como essa terra atrai, puxa para uma relação intensa e visceral, de destruição e apagamento dos rastros desse corpo, em soterramentos e marcas. Como não ser óbvio ao lidar com os elementos da natureza?
   A fogueira, as cinzas que mantém o calor, a dor ao mergulhar nesse forno que ali permanece até a chuva o apagar – não há possibilidade de um corpo que absorva a natureza, mas a natureza absorve o corpo.


OS PÉS OS PÉS!!!!