Nádia Recioli

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Sou doula. Sou atriz. Sou permacultora. Tive uma incursão bastante importante no indigenismo. Urbana por natureza e rural por puro exercício de desconstrução do hábito, me tornei bicho do mato por questão de lógica. Trabalhei com moradores de rua e com presidiárias. Cada vez mais percebo minha trajetória como uma sucessão de encontros com a alteridade e com ciclos de nascimento e morte. O estar diante de um outro que não sou eu e que padece de dores que não posso sequer conceber. Conviver com os Kaiowá de Panambizinho foi levar isso ao extremo e ficar atônita. É o estar atônita que me move à Nuvem para meditar essa bagagem e compartilhá-la com os demais residentes.


A proposta

Depois de uma estada de 2 anos entre os Kaiowá e a partir do choque do reencontro com a cidade de São Paulo, uma série de questões complexas disparam e precisam ainda ser elaboradas.

Pretendo utilizar o período de residência para estudar mais afundo a cosmologia Kaiowá, confrontando a relação entre o complexo genocídio-suicídio a que essa população se vê submetida com o ideal estético de negação da morte que a cultura urbana promove. Uma cultura que, para manter-se viva, mata tudo o que pareça uma ameaça em potencial.

O índio, enquanto a encarnação do ideal do “homem integrado à natureza” é e tem sido para esta sociedade “aquele que deve morrer”, pois é a prova viva de que outras formas de estar no mundo são possíveis. As populações Guarani e Kaiowá do MS têm sido vítimas de genocídio e exploração sistemáticos, sobre os quais se fundamenta o crescimento da economia nacional, a produção de grãos, de etanol e, em suma, o modo de vida e consumo adotado nas grandes cidades.

Modo de vida que adota uma lógia suicida: a tentativa de plastificar para eternizar estanca o fluxo de vida e gera morte como resultado: esterelizantes, antibióticos, agrotóxicos... a prorrogação indefinida de (sobre)vidas em hospitais... Um ideal de não-morte totalmente insustentável, pois opera pela destruição das fontes de vida: solo, florestas, águas.

Por sua vez, os Guarani e Kaiowá, impedidos de existir, têm praticado o jejuvy (suicídio por enforcamento ou envenenamento): a palavra siginifica algo como “aperto na garganta, voz aniquilada, impossibilidade de dizer, palavra sufocada, alma presa”.

Sinto que devo isso de certa forma aos Kaiowá, mas que tal pesquisa é muito vasta e complexa e que a residência na Nuvem seria a oportunidade de dar início, em um ambiente mais adequado do que a metrópole.