Maria Luisa Borges

De wiki da nuvem
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Das gentes que não se incomodam com aranhas nas paredes/ gosto de gentes que se incomodam com paredes sem janelas/ gosto do gorro pendurado bocejando indiferente enquanto abro a fresta e gozo .


      Aranhas e boneco bocejante.JPG



Relatos
precedentes
de diários
intrínsecos
imaginários e reais
Boneco de Dali derrentendo na mão do artista 

escorrendo no palco mercenário onde ele nunca mais será contatado muito menos contratado mas certamente descontado, difamado e mau amado...Não! isto ele já era antes mesmo disto,quando não pedia licença pra falar merda, nem meter pau em político, nem falar coisas obscenas contra a moral e os bons costumes.


           Boneco derretendo.JPG

Tietê , calor, dor no braço, calor, gente empurrando, calor, passagem esgotada, calor, espera, sala vip, espera, espera, espera , estou quase vestindo a blusa ,espera ,espera, voz doce ,insuportavelmente ,doce- Boneca lânguida , sombrancelhas erguidas, loura alta empinada, esteriótipo da beleza horrível, voz,voz voz, manipulável, café grátis diarreico. Plataforma, fumaça na cara, atraso, embarque, delícia de livro. Dormem os bonecos nos seus respectivos assentos.

           Moça da sala vip.JPG
                   Noite precedente

Não possuo a noite... ela me encontra com a cabeça nauseada girando buscando respostas.Ela me possue mas não dorme comigo. Os giros de um Derviche sobem, descem mãos... pescoço inclinado... Como suas articulações descrevem no ar o movimento? Eu quero estar consciente pra entender o transe, rodo até a vertigem e não descubro. Velo mas não me enlevo. Desisto de controlar, desisto da precisão, desisto dos fios intrincados. Eu me sento no chão tecido na mão, desenho e corto um círculo, emendo, costuro , colo, encaixo, me esqueço... me arrasto, me busco, me deixo, me desembaraço... Não precisava de nada, só do cansaço. Giro o boneco e ele me encontra , ele dança, ele solta e eleva os braços, eu adormeço e o pequeno boneco me envolve ‘n ‘abraço. Amei o Derviche, mas ainda guardo em mim a náusea de não possuí-lo.

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Convidaram-me a grande banquete antropofágico, porquanto não haja infelizmente, razões suficientes para que desejem me degustar. No entanto sigo lisonjeada , fortificam-me com o despojo de outros admiráveis guerreiros e guerreiras capturados na rede de mesmas ânsias. Beberico suas memórias no antegozo de integrar-me (à) suas potências. Desperto. Pois este será um relato fragmentado. Desperto nos braços de um enorme boneco de JV. Ele me aquece e me envolve, ainda que eu queira fugir, minhas pernas tremem bambas , pois seu cheiro me provoca fomes... Um dia capturar esse grande guerreiro mimá-lo o quanto eu possa para depois, alimentar-me dele.

Boneco JV.jpgNos braços de jv.JPG

                 Primeira manhã

O cheiro de café me tortura deliciosamente. Abro a porta piso a grama, recolho folhas de pinheiro, cabeleiras espinhentas... Um abraço me modifica, bocado de honra e ternura me alimentam. Tantas flores. Um riacho, um convite pra sair ,explorar, eu posso, eu ... passo. Passo pra dentro, engato num pensamento e acho! Acho que vou ficar : adentrar.


Versinhos medíocres

Um dia a vizinha pediu pra erguer a cerca... achei bom. Achei que ela sofria, que a privacidade que queria podia curá-la dali. Custava tão pouco : um punhado de bambus enfileirados, enlaçados e fincados, mas tive pena das plantas que teria que arrancar pelo caminho. Mas a mim me parecia que ela queria um carinho... Outro dia vi o rio: o que separava os quintais... era tão lindo o percurso, tão igual a coisas que quis e nunca tive, parei de desejar fazer cerca... percebi que só desejava ser ponte. Pensei então que um varal e uns poucos lençóis podem dar a todo alguém um pouco da tal solidão querida. Daí cantei: Ela quer a cerca que eu também já quis Foi meigo o pedido dela e a cerca eu quase fiz

Pensava que a cerca era ponte

E secava do mau a fonte, mas não.. A cerca, era separação

(Sentimentos medíocres inspiram versos medíocres) Recolhi meus devaneios e fui fazer o almoço

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Abobrinha fatiada, semente de girassol ,cebolinha e salsa verdes, raspas de gengibre ,cebola refogada em açúcar mascavo ,especiarias... água, fogo baixo, tempo, atenção ,carinho (achei que não tinha sal).


Retomar, retornar, repensar

Há muito que penso numa performance de três grandes escudos:

Um deles tem flores, um deles tem espinhos, um deles tem espelho

Penso no boneco como escudo, como um duplo. A cada momento ele se ressignifica. O boneco escudo também é duplo, fala por nós indicando o que queremos ser, ou o que queremos mostrar e dizer de nós mesmos. Nós o manipulamos, mas ele nos norteia. Essa defesa me intriga, tenho ganas de construir as imagens para observar o que acessam. Oscilo do lúdico ao sagrado, do cômico ao estratégico. Eu duvido dos caminhos, mas sei onde quero chegar. Eu não caminho sozinha. Vou com as gentes e os bonecos que carrego comigo , em toda parte me enrosco entre hastes , fios e vidas.


“Na segunda manhã que te perdi era tarde demais pra ser sozinho... cruzei ruas estradas e caminhos...”(Alceu Valença) http://www.cifraclub.com.br/alceu-valenca/na-primeira-manha/ Hoje os fazeres... Saio em busca de companhia.

Encontro boas conversas vontade de sair pra fotografar talvez amanhã. Respiro, exercito me expando me encolho me recolho. Continuo a armazenar imagens e materiais inspirados no guerreiro. Termino alguns desenhos de bonecos. A imagem do rio que passa no quintal é maravilhosa a água é cristalina, piso nas pedras e na areia, apalpo me refresco, as sombras das folhagens e o movimento das águas a luz que perspassa cria desenhos incríveis na luz do imaginário, há uma pequena sereia nadando no cantinho daquela gruta...

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Uma lembrança da Escola da ponte e da experiência na Escola Amorim Filho¹ (http://amorimlima.org.br/ ),pautada na experiência de José Pacheco http://www.educacional.com.br/entrevistas/entrevista0043.asp)e a escola da Ponte ,trouxe recordações de escolas e crianças.

Dou início a boneca de uma sereia feita com caixas de tetra pac descartadas e madeira compensada (talvez caixa de papelão). Ela me inspira uma intervenção lúdica, talvez junto à escolinha deste bairro (possibilidade de registro?) Misturo a sereia à atendente da sala vip da rodoviária de São Paulo. É uma sereia que deseja ser atendente de bordo, ou atendente de lanchonete. Ela precisa aprender a fazer e a servir um bom café. Preparamos um chá preto muito azedo que é anunciado como café bem docinho e servido a voluntários. Observamos as caretas e conversamos depois. Outro boneco é apresentado na ocasião é um guerreiro é oposto a boneca de sereia, ele é feito com materiais naturais mas espinhento e desconfortável de tocar.

Memórias recorrentes : de como me apaixonei pelos bonecos: http://www.cbtij.org.br/arquivo_aberto/acervo/pecas_ilo_historiadelencos.htm

Hoje. Renovar o olhar: Acordar as 5 hs para acompanhar a alvorada. Caminhar até a cachoeira do Marimbondo. Renovar. Muitos presentes.

Companhia.JPGCaminhos de marimbondo.JPGCapturando o olhar 1 (4).JPGCapturando o olhar 1 (3).JPGCapturando o olhar 1 (5).JPGCapturando o olhar 1 (5).JPGEscalada.JPG

Sentada na pedra sob a árvore, sentada na pedra sobre o rio, os pés na água fria da cachoeira, o sol ameno lembranças que choviam apenas em mim. Caminhei e a chuva caminhava comigo.

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Um convite gentil uma celebração, visita de Helena e confirmação. Fomos todos dançar, danças circulares de luas e sorrisos. SAM 2914.JPG


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Quando cheguei, algo em mim se calou. Tinha muito a fazer. Os nortes foram se transformando e as urgências perdendo o sentido. Meu desconforto ainda permaneceu por algum tempo pela sensação de não produzir algo palpável. A substância que observei e frui aqui da força de trabalho de tantos guerreiros me nutrirá por algum tempo. Lembrei-me viva e insubstancial. Permaneço na engorda... Um dia oferecer-me-ei num banquete digno para o alimento de todos, vamos caminhar.

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