Magia:a: caminho de resignificação e e ritos

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MAGIA: CAMINHO DA RESIGNIFICAÇÃO DE MITOS E RITOS por Eá

Tempos conflitantes, momento de tomada de posição. Crise econômica mundial, aumentos de medidas governamentais, de crimes ambientais e manipulação civil. Atacadas as trocas de dados pela internet: A.C.T.A. e S.O.P.A. A crise mundial, manipulação socioeconômica dos países de uma Europa enfraquecida, a implementação de políticas energéticas na bacia amazônica e o despejo de moradores de áreas de um obtuso projeto urbanístico com eufemismos como “choques de ordem” e “unidades pacificadoras”. O que isso tem haver com a questão da “magia” e qual seria a contra-resposta a essa merda que aí está? Aqui eu apelo para a figura da MAGIA como ferramenta de operação abrangente em todos os meios e âmbitos da sociedade. Seja na construção, resistência ou guerrilha, este mito está presente junto a incompletude do mito Homem, bem como sua desesperada fuga da morte. Primeiramente, exponho aqui alguns pontos de contato com a dinâmica histórica do mito do ser mágico em relação à sociedade sem me deter na historicidade dos conceitos. A seguir, levantarei alguns conceitos (ou neo-mitos) para trocar estratégias de uma operação menos excludente.

ENKI NOS DIVERSOS TEMPOS O mago/bruxo/xamã/alquimista/curandeiro/sacerdote/guia vive em sociedade, também vive no “entre sociedades”. Ele lida com os códigos do mundo civilizado, legitimado, validado como tal, mas também com o do mundo marginal, proibido, deixado fora dos interesses legitimadores de seu clã, da tribo, do vilarejo, etc. Está presente no mundo das ervas venenosas e curativas, dos animais peçonhentos, dos entes banidos pelo sistema, das grutas, dos pântanos e das cachoeiras, enfim, da margem, do não-lugar. Dinamiza os conhecimentos de uma contracultura bem como a manutenção da realidade, dupla atribuição esta capaz de fazer deste complexo personagem uma questão de difícil apreensão pelos mecanismos de controle de qualquer tempo e espaço. Podemos supor que uma sociedade cuja política de controle social e econômica apele para a marginalização das práticas da cultura tradicional (p.e.), indiretamente fortalece a imagem dos agentes de resistência e poder rivalizador ao status quo, reequilibrando as forças atuantes na realidade constituída, onde o “Humano” e suas instituições vê-se confrontado pelo agente da iconoclastia antagônico a ele, podendo ser a própria representação da “Natureza” na figura desse mago, feiticeiro e etc. Sendo o mago de origem humana, participa da natureza e de suas tensões, retorna à sociedade recodificando seus símbolos e fluxos e interrompendo a lógica do pensamento ordenador. Sua existência escapa para o universo do sobrenatural em uma ecologia junto aos seres de uma criptozoologia popular. Esses indivíduos tangenciam os “tabus” preestabelecidos pela sociedade, podendo eles refutarem ou intensificarem as questões que perpassam qualquer ordem (e sexual é uma delas), conforme a dinâmica na vida cotidiana da sociedade em que se inserem. A questão do corpo, ambiente de exploração, de excitação e de privação do prazer e que supera o conceito de natureza sexual, esse tipo de mecanismo é próprio de muitos desses agentes míticos, que encontram em tais práticas os meios adequados para grandes alterações de consciência e transformações na realidade. Salvo o contexto histórico, a questão dos tabus e sua releitura estão hoje manifestas nas questões identitárias, sócio-relacionais, no debate de uma educação expandida, na cultura “Queer” e pós-feminismos, nos movimentos pela legalização do uso de substâncias naturais proibidas por algum órgão internacional de regulamentação qualquer e por aí vai.

MAGIA Enquanto mito, o “Homem” é um criador de si mesmo, atrelado ritos que conservem e justifiquem seu modo de “ser” frente a morte. O mito do “Homem” não aceita a morte, pois ela ritualiza a conservação da cultura para além de sua finitude. A magia é um mito que participa da morte, enfrenta a vida e acompanha as dinâmicas de diferentes processos do mito Homem em sua existência. O Homem criou o mito de realidade segundo sua própria imagem e semelhança para confrontar aquilo que ele mesmo não dava conta. Passou a sentir o real, envolver-se com ele e, no instante seguinte, (por meio da magia) mudá-lo. Muda-se o pensamento, os sentidos, o envolvimento, por conseguinte, a matéria muda também. Confunde-se MAGIA com egrégora, as instituições do pensamento que se movem através da magia. Magia anterior ao próprio paradigma. A questão da magia está passos adiante de estruturas morais, religiosos, políticos e econômicos. Ela nasce da necessidade da vida, da convivência do indivíduo no coletivo, na instauração de realidade frente ao incerto. Poderíamos dizer que outros pressupostos nascem da mesma origem, como a economia de subsistência, o coletivismo e tantos outros que não cabem aqui. O que difere os pontos entre elas acentua-se na afirmação da ruptura da realidade vigente para outra instaurada. A magia como mito empresta a potência ao mito do Homem, participando de seus ritos como a religião, a economia, a política, a cultura, etc.

TECNOLOGIA SOCIAL COMO OPERAÇÃO MÁGICA O debate não reside no desdobramento do campo tecnológico das coisas, do uso de ferramentas convencionais de uma cultura da qual hoje desemboca no termo Digital, mas articulada com a participação coletiva, independente dos direcionamentos econômicos dos dispositivos e meios de comunicação, capaz de operar coletivamente o devir, tanto na convergência quanto na ruptura de estruturas vigentes. Vem a ser uma poderosa ferramenta de atuação social da qual não se pode ignorar e não se faz ignorar. A temática contracultural é a “pegada conceitual dessa articulação, que se configura, na maioria dos casos, de maneira nômade, decentralizada e informal. É importante um olhar atento para esse fenômeno, pois nele podemos encontrar soluções para questionamentos antigos deixados pela convencionalidade das relações socioculturais. Outra questão recorrente é o da valoração por outros mecanismos legitimadores que não passam (necessariamente) pelo caráter econômico, como as trocas de saberes descentralizados, os atos de resistência cultural, a inclusão social e digital, o exercício de coletividades possíveis e tantos outros temas. Essas possíveis relações desdobram-se em novas formas de comunicar, registrar, disseminar, visualizar, programar e assimilar. Desterritorializados do tecnicismo, gerando novos paradigmas relacionais, onde taxonomias assim como as toponímias são mutantes, nômades e efêmeras. Agora é pertinente levantar o chamado do Tecnomago. EXORCISMO Esqueçam aquela prática bizarra dos medievalistas, que expulsavam seu maior colaborador. Para maior esclarecimento, leiam os grimórios cristão, onde a prática de exorcismo só não é mais detalhada que a de invocação e evocação de espíritos. Que a hipocrisia do alto clero seja banida e seus representantes sejam devidamente aferidos pelo escárnio popular, pelas gerações. Quanto a essa questão, o exorcismo é uma prática necessária para a expurgar os malefícios das instituições adaptativas e famintas inseridas na cultura do capital.

(IN) VISIBILIDADE O jogo da telepresença nos interessa, apenas quando a ubiquidade e multiplicidade é usada como instrumento de afronta ao status quo, pois estamos em toda parte. Sermos Um e ao mesmo tempo Nenhum permite-nos a construção de uma guerrilha móvel, tão migratória quanto o bando de Lampião pelos sertões nordestinos, lembrando que o deserto agora se estende por todas as dimensões da realidade vigiada. Podemos esconder nossos rostos e peculiaridades, mostrando a realidade em recortes possível, ou seja outras realidades mascaradas. É um jogo de esconde-esconde, com apoteóticos momentos de exibicionismo e aparições. O “tecnomago” comanda as legiões de scripts nominando um a um, seus comandos começam com a afirmação de que O MAGO é aquele que nomina, instala, remove, destaca, duplica, atualiza, etc e tal. Para o Mago que brinca com as tecnologias, apagar trilhas da realidade e reescrevê-las é uma operação similar ao psicomago que apaga da memória momentos cruciais da operação. O lapso causa estranheza, potencializando mais ainda o cenário construído. Quer ser como os tuaregues, os cangaceiros, os bruxos do deserto mexicano? Apague suas marcas deixadas na areia e instaure a utopia.

(In)CONCLUSÕES “somos abstração, somos em toda parte, somos 0 e somos 1”. Somos os encantados de luz que viajam nas redes da internet, principalmente em FTP, em IRC, em wiki, em RiseUp. O canto banto de tambores ancestrais são nosso chamado, sampleados na fúria de guerreiros nômades que amamentados com TAZ deram seus primeiros berros de FODA-SE para o universo conhecido e tecnocrático. O fato é que o (tecno)mago lida com a arma simbólica como enfrentamento junto a uma sociedade normativa, massificante e massacrante. Seu rito contextador ressignifica os antigos ritos de levante tribal para a guerra, transformando a realidade contrária em um campo de dinâmicas operantes, de longa duração e de conscientização geracional. As questões de embates já não são mais aquelas de expulsão de espíritos malígnos, curas milagrosas, transmutações alquímicas e conquistas pessoais ou tribais, mas o anticapitalismo, a anticorrupção, a democracia real, a sustentabilidade, a busca da energia limpa e consciência coletiva... As tribos globais não mais se comunicam telepaticamente, mas em tempo real, na velocidade das trocas de dados, ativando questões e reflexões em velocidades altíssimas e gerando ações diretas cada vez mais pungentes e de estratégias mistas.