Inês Nin

De wiki da nuvem
Ir para: navegação, pesquisa

Azuisnuvem640.jpg Parabolica.jpg


assunto

imergir na nuvem, compreendendo seu caráter interdisciplinar que traça linhas tangentes entre artes, saberes e técnicas diversas, para me concentrar em produzir sobretudo textos, podendo se desdobrar em eventuais registros ou ações de outra ordem (fotografias, desenhos, derivas). ao final da residência, me comprometo em gerar, como meta mínima, uma pequena publicação com o material gerado.

a ideia é habitar um espaço rural, distante em muitas dimensões do cotidiano urbano de concentração caótica e que tanto desconcentra. um outro aspecto relevante é sem dúvida o ambiente tecnomágico, povoado de potências e atividades em curso, como soma da trajetória do espaço e das pessoas que por ali passam. é a busca por uma intensidade que acomete um recorte de tempo determinado, em lugar propício. busca de concentração, foco produtivo, devaneios e trocas em grupo.

pontos norteadores: cultura DIY, filosofia da técnica, micropráticas coletivas, devaneios, deslocamentos, adaptações e meios adotados em relação ao espaço.

chegada

estrada

Ss-ascetica.jpg


quero dar conta de bastante coisa. escolho livros, troco para uma mala maior, no final percebo que só trouxe obras de teoria. e a magia que acolhe tão feliz esses recantos no mato! preciso de poesia, também. um pouco de ficção para os dias e para as máquinas que nos circundam. e para a teoria, sim. sabemos. óbvio que a primeira coisa que faço no domingo é explorar a estante de livros, depois de passar a madrugada fissurada num volume sobre os maias deixado sobre a mesa: absorver o máximo do ambiente. o ar é mais frio que o de costume e agrada. às vezes páro no caminho para tentar identificar um ou outro cheiro de planta. me oferecem uma carona, primeiro um cara numa moto (penso como caberá minha mala naquela moto), em seguida surgem amigos dele a bordo de uma picape – que alegria! e venho por 5 ou 7 minutos ganhando vento no rosto.

um palpite para um começo ou um norte possível ainda em aberto é me basear na meditação sobre a técnica de ortega y gasset. algumas questões ainda no caminho são principalmente que não terminei de ler o texto, preciso ver ainda se serve. mas enquanto imprimia, antes de vir, uma ideia me surgiu: na tradução em português baixada do scribd, as páginas não estão numeradas (são 25, contra cento e tantas do scan do livro original em espanhol), e enquanto imprimo algumas saem do lugar. localizo-as, então, comparando com o arquivo digital, uma a uma a partir da primeira palavra no topo do lado esquerdo da página. reunidas, formam uma composição interessante, e faço uma anotação mental de sublinhá-las e ver no que dá. decido então não grampear as folhas, as trago presas no clip amarelo encontrado no último dia no vipassana, pensando na possibilidade de serem reordenadas, como as peças de um jogo (tal como o rayuela e outros experimentos literários).

na nuvem. chego cansada, há castellano, mulheres, aconchego, um cara é francês. adquiro um automático de me dirigir a todos que ainda não conheço em portuñol, recuo. comida, boas conversas se iniciam à mesa ou em qualquer lugar. cada um conta um pouco do que faz, às vezes passeio pela varanda e pergunto.

reconhecimento de área. várias coisas diferentes desde a minha última vinda, é claro, faz pouco mais de um ano. na época o espaço ainda começava, os meninos andavam pelo jardim pescando satélites com antenas feitas de bambu e alumínio, tão bonito. foi um final de semana curto e inicial. agora há uma instalação de fios coloridos no jardim – são barcos! que me remetem a qualquer coisa xamânica (há alguns objetos distintos presos na rede que se forma). e bicicletas, memórias, imagens, tantas coisas.

estante

pego um livro para ler da estante. ainda não comecei a escrever ou a tocar a proposta inicial, de algum modo. mais um tempo em reconhecimento. elementos encontrados no ambiente também fazem parte do trabalho – na verdade, é um tanto sobre isso. pegar a bagagem que carrego, aproveitar para desenvolvê-la e organizá-la um pouco, e uni-la ao que encontrar por aqui, absorvendo e misturando com o que trazem os outros. o produto será um ponto feito no espaço: restrito pelo recorte de tempo, tem uma data limite para se delinear. para isso é preciso de um pouco de organização, que esboço aproximada na cabeça. não há intenção de controlar o processo, somente de cumprir uns quesitos mínimos que possam nortear.

objetos que trouxe:

duas câmeras analógicas; cadernos, uns meio preenchidos; computador, não resisti, para organizar: thaíse me fala que seu projeto é justamente sobre como quase não escrevemos mais à mão! e a caligrafia, caligrafia. eu concordo, é uma relação muito mais livre e direta com o espaço da página, com os materiais. ela carrega um caderno sempre consigo. eu ainda não toquei nos meus e vim para o computador escrever (tem internet, é um perigo); quatro livros.

o que comecei a ler é de teatro, relatos de um ator japonês que foi para a europa (frança, inglaterra) em 1968. [yoshi oida, um ator errante] o que conecta: bati o olho em japão, aqui momentos antes falávamos em dança e teatro. cena 11, este ou aquele método mais livre, tenho lembrado disso com mais recorrência. dança: fiz uma aula de expressão corporal que foi um arrebate. quando saí, queria abraçar todo mundo. há muitas coisas entremeios.

e porque japão: bingo! ele fala de budismo. de algum modo sei que alguma coisa precisa ir por aí. converge. e também no japão, já nos anos 60, a educação dominante (provavelmente nos grandes centros urbanos, ou a dos colégios caros, não sei) era de origem europeia. música europeia, teatro europeu. estranhei muito quando vi um filme recente em que uma coreana estudava sociologia e lia durkheim. sempre os mesmos autores, os mesmos livros, as mesmas referências, ciências e bagagem teórica. me espanto muito como grande parte dos meus referentes absorvidos no brasil são europeus. isso incomoda sob certo aspecto, porque acaba nos impondo uma distância que nos antecede, ao mesmo tempo em que todo esse repertório também compõe nossa identidade.


silêncio

Brr1.jpg Brr2.jpg Brr3.jpg


vim do silêncio falei sobre o silêncio nem tanto silêncio mas sim, você conhece! que loucura, todo mundo conhece. sim, é bom.

você está falando do vipassana de novo?


do que é coletivo

Bzz7.jpg Bzz8.jpg

Escutact800.jpg Fogonuvemines.jpg

Ss-barthes414diferenca.jpg

Ss-barthes conversa.jpg Ss-corpo.jpg


meio

é preciso criar pontos entre as pontes que criamos.

teorias mediadas por telas, fogueiras e rodas de amigos; as teorias de livros digitais lidos todos em fragmentos; tem música no espaço; corro para o jardim; chove; pego o lápis e traço uma linha; na rede, parto para o japão.

será que eles leram esses textos todos? eu acumulo filmes livros discos etcéteras até que páro e presto atenção em alguns. de 10, 50, me apaixono por uma única obra e investigo o quanto posso do autor, ou do tema, mas sempre há mais. porque há obras que devem ser lidas muitas vezes. em diferentes momentos da vida, confrontadas com repertórios atualizados, revistos, reformulados, também provocam novos efeitos. catalizadores de processos, esses encontros. e nossos acúmulos, compartilhamos. se eu não li, alguém vai ler. lidemos com nossos presentes.

antropofagias de suely rolnik, nossas e do toninho, vizinho que reúne marcenaria, cabras, cogumelos e forró! de cultura, me fala de termos um centro, mas estarmos abertos. saudável estarmos abertos a rever nosso centro também. vê-lo sob os olhos de outrém. e misturar, como se abre portas e acrescenta manjericão.

Ss-arvore-primeira.jpg Ss-arvore-segunda.jpg


trilha

a cachoeira abriu os braços e me engoliu.

mapeamos o trajeto à nossa maneira: primeiro a estrada, à direita, depois a trilha – há uma placa, onde se lê somente “trilha”. subimos – é o morro da formiga! o mato alto denuncia um percurso não tão procurado, o que provavelmente enaltece o destino. dá vontade de contar a quantidade de formigueiros pelo caminho, mas não perdemos tempo e seguimos. kadija vai na frente e arruma um cajado para nos guiar! gosto do folclore que dá pra construir em volta, a mitologia facilmente evocada quando se orienta por um caminho entre duas árvores: a trilha molhada. chegamos, o poço é verdadeiro oásis da montanha. silêncio, silêncio. de pedra em pedra, como lagartos, até ir testar as forças na queda principal. é possível alcançá-la sem esforço, nadando, mas que tal a correnteza que te espera! quis pular, quando viu era tarde, mergulho. e um galho no meio do caminho age de bote salva-vidas antes da margem de tormenta.

marimbondo que corre tem limites variados marcados por pedras e pedregulhos, mas às vezes escapa por rotas nem tão previstas. mesmo assim, por aqui é mais fácil compreendê-lo se comparado aos mares e oceanos que não veem fim. um rio possui uma rota mais ou menos delineável, ainda que selvagem, com possíveis surpresas pelo caminho. a água é doce, apetece, te acolhe no gelo que é quase quente. forças de superpoderes! nada mais. já os mares que se emendam uns nos outros são poços sem fim, dividem a vista em dois e isso basta. a entrega ali é total. a compreensão dos ciclos e céus ampara o sujeito, o resto é vida.

Trama2.jpg Trama01.jpg


técnica

compreender o princípio da função, de sobremaneiras que vão de hacklabs a bibliotecas. eis o intuito e o problema, que uns trazem de respostas construtivas, vindas de seu próprio processo.

embaralhar ortega y gasset meditando sobre a técnica ou sobre o corpo


Ss-literarias.jpg


das folhas reordenadas mas ainda soltas, percorridas, uai iniciado com uma abordagem muitas vezes lembrada. uma primeira aproximação ainda muito plana, que tateia por entrelinhas na busca que se versa em cores. palavras-chave, um acesso.

rumo

deixar para trás a rigidez do projeto (isso parece valer para todos) / incorporar a circunstância / procurar coerência ou "amarração" para o trabalho é de fato crucial ou precisa de muito tempo?


- quando se está com a mente limpa e presente o percurso acontece.


- é possível se inscrever com processo? em geral não, busca-se imagens sólidas, ou ao menos imagens. aproveitar os espaços abertos no sentido de vivê-los


- como é tornar-se discurso?

Thaise640.jpg

/ img ~ http://www.flickr.com/photos/inesnin/ / txt ~ http://ahora.azuis.net/ /// http://azuis.net