Escolher

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Para além dos trocadilhos, tecnomagia no limite cuja existência ninguém provou. Magia sem técnica? Pura vontade. Técnica sem magia? Só tédio. Quatrocentos anos de enganação. Uns tentam: técnica como domínio daquilo que se percebe e magia seu complemento, a manipulação do que escapa à evidência. Não, é pouco, é raso! Magia como segredo do ser. Aquilo que em mim não é engrenagem. Tocar com pele, fluidos, éter e imaginação um outro eu que se torna eu mesmo, e por extensão o múltiplo onde eu não mais existo. Tornar-me empaticamente outro um, outra coisa ou o nada. Sintonizar campos, reverberar com o mundo que me cerca. Receber, dialogar e negociar com seres, mesmo que não reconhecidos como tais. Operar feitos físicos e imaginários por meio de segredos. Sentir que estou sozinho, e isso é bom. Sentir que nunca estarei sozinho, e isso é bom. Desdenhar da fé, confiar na dúvida e vice-versa. Sabotar meus próprios mitos, perder-me no silêncio de todos os gritos. Transcorrer um átimo entre o impulso de saber e o processo de descobrir. Encantar ao próximo e a mim mesmo com esta ou aquela habilidade. Transformar lama em não-lama, e depois em lama outra vez. Talvez então a técnica da magia como caminho. O processo de repetir e repetir e repetir até deixar de acreditar, e então repetir um pouco mais e não precisar mais acreditar, porque já terá sido. A ritualização que parece encenada, e depois desnecessária, e depois inevitável. As coisas que fazemos sem porquê. A chave de fenda não existe, nem a mão que a segura, nem o que quer que pense comandar a mão. Só intenção e crença, mesmo que voluntária. A vontade dentro de um sistema de vontades, extravasando-o. Tudo questão de escolha. Decidir entre dominar um mundo concreto de poucas variáveis, ou então assistir como a realidade escapa das mãos. Viver assim nos paradoxos, na fronteira do vilarejo, sorrindo aparentemente sem motivo. Eu já escolhi.