Elisiana Frizzoni Candian

De wiki da nuvem
Ir para: navegação, pesquisa

Olá pessoal!!! :)

Minha proposta de trabalho na Nuvem teve um caráter teórico-prático e teve como objetivo investigar os trabalhos dos residentes a fim de documentar os processos de criação, a partir de uma metodologia baseada em entrevistas , observação participativa das ações, coleta de dados e devolução para quem foi observado.

Todo o material produzido (entrevistas, apontamentos e fotos) será registrado aqui (e pensava em registrar em um blog, o que ainda não aconteceu).

Propus um questionário para ter um padrão e tentar entender: >Quem vai a campo? Vai por qual motivo?

Coloco aqui um pouco do resultado da minha estadia, baseada em conversas, observações, registro fotográficos e muito tempo passado na cozinha, cozinhando, ajudando pessoas a cozinhar, lavando louças, etc :)


Reunião do dia 29/01

Logo no meu primeiro dia (29/01) aconteceu na casa, uma espécie de assembleia, já anunciada no “e-mail-convite”. Uma vez que, no primeiro dia de convocatória (1° de dezembro de 2015) as vagas disponíveis se esgotaram. Foram 82 inscritos e a casa estava apta a receber cerca de 30 residentes. Então, a conversa se fez necessária, a fim de repensar o modelo adotado. O e-mail dizia o seguinte:

“Queremos convidar todxs que se inscreveram, selecionadxs ou não, a participar de nossa reflexão sobre esse programa de residências. Uma conjunção de fatores nos obriga a repensar, para o próximo ano, o critério de convite por ordem de envio. Em primeiro lugar houve um número recorde de inscrições; além disso, a quantidade de vagas na residência diminuiu devido a uma reorganização da casa e houve pela primeira vez uma corrida para a inscrição, fazendo com que as vagas acabassem ainda no primeiro dia. Pois bem, a quantidade de inscrições que ultrapassa nossas possibilidades de acolhimento e a dinâmica de “correr pra se inscrever” nos tira de nossa ideia de abrir a casa para interessados dentro de uma rede de relações que seja sustentável – somos um projeto que articula micropoliticas e não queremos ser exclusivistas ou excludentes - e pode nos lançar a uma condição competitiva e mais uma vez seletiva. Nos perguntamos então, qual será a melhor maneira de seguirmos com uma chamada aberta sem que tenhamos que excluir tanta gente e sem que haja por conta disso uma concorrência para fazer parte? Se existe uma lei de oferta e demanda - que pode ser influenciada inclusive por fatores externos, como a crise que passamos agora com a falta de ofertas de editais públicos, a falta de residências gratuitas no país, a falta de incentivo de uma maneira geral - o que pode ser mudado no nosso projeto para que exista interesse proporcional à nossa capacidade de acolhida, e não sempre maior? Ou como podemos nos adaptar a essa demanda sem que tenhamos que crescer de maneira insustentável? Assim, além de agradecer pela inscrição, queremos te convidar a participar dessa conversa presencialmente (no caso dos que vão à Nuvem) ou por qualquer outro canal de comunicação.” (e-mail da nuvem, 2014)


A partir de então, nos foi proposto pensar e propor alternativas sobre como a casa poderá funcionar nas próximas edições da residência de verão. Eu gravei essa reunião e transcrevi aqui, a fim de deixar registrado a conversa que tivemos. Os participantes opinaram, uns mais, outros menos, contaram sobre experiências particulares. E eu transcrevi aqui, colocando o que achei mais importante.

A reunião se iniciou às 17h00 do dia mencionado e contou com a participação de Bruno Vianna, o organizador presente na nuvem no dia mencionado, Isabel Goudart, amiga da nuvem, que nos visitava nesse dia, e com os residentes: Mariana Guimarães, Victor Tanzarin, Bruno Oliveira, Vitor Pacheco, Michele Queiroz, Bernardo Gutiérrez,Luísa Marinho, Thiane, Thaíse Nardim e eu.

Bruno Vianna iniciou a conversa falando que a Nuvem adota uma forma autônoma de subsistência: não há curadoria e nem um filtro previamente definido para selecionar trabalhos. E disse acreditar que, o acaso interfere na ida de pessoas para a casa de diversas maneira, não só com relação a quem manda proposta primeiro, mas também no próprio fato de que há uma busca maior por determinados períodos de tempo, podendo acontecer de uma pessoa não conseguir ir exatamente quando gostaria. E às vezes a casa fica relativamente vazia. Na Nuvem, segundo Bruno, acasos e combinações funcionam muito bem. Surpreendentemente, segundo ele, a falta de filtros não provoca nenhum caos, e brinca que até então não se inscreveu nenhum psicopata. Mas este ano os organizadores se surpreenderam com a excessiva busca e as vagas acabaram no primeiro dia de submissões. Geralmente, as vagas duravam um período maior e as pessoas mandavam propostas sem o atropelo deste ano. Por isso, essa questão foi vista como problemática e desencadeou a necessidade de se pensar em conjunto em uma possível estratégia a ser usada nos próximos anos, uma vez que a corrida por vagas deixou muitas pessoas de fora.

Até o final da Residência de verão 2015 a casa receberia 32 residentes, como já dito, dentre 82 submissões. Outro ano (não foi citado qual) foram cerca de 60 inscritos, no último ano entre 40 e 60. Já no primeiro ano, nem precisou deixar ninguém de fora, sendo possível acomodar a todos e aí veio a ideia de 'como é bom não ter de selecionar'. A metodologia também foi adotada a partir da residência de inverno da Nuvem, o Interactivos (ocorre no meio do ano), em que os projetos são selecionados, mas não são selecionados colaboradores: os inscritos são convidados por ordem de inscrição.

Thaíse disse se interessar pela conversa, uma vez que organiza um evento chamado “Festival de Apartamento” de arte da performance. (http://www.festivaldeapartamento.blogspot.com.br/p/sobre-o-festival-de-apartamento.html ) O festival, segundo Thaíse, adota um princípio similar à Nuvem de “não-seleção”, e assim, o festival esbarra em um problema parecido com o que discutíamos a respeito da residência: há uma demanda maior que a capacidade do festival. O festival, que já está na 14° edição, tem uma estrutura muito simples, segundo Thaíse: ocorre em um apartamento emprestado por uma pessoa (o chamado Anfitrião). O “anfitrião” convida interessados a fazerem performances em sua casa, sem curadoria, por ordem de chegada das propostas. E dura uma noite. O critério adotado pelo evento vai de acordo com a lotação da casa e limite do festival de apartamento é chamado de “morte súbita”. Quando a pessoa se inscreve, ela preenche uma ficha de inscrição, descrevendo como será sua ação e os organizadores recebem pessoas enquanto acha que vai caber no espaço disponível. Nas últimas edições, o excesso de pessoas, segundo ela, incomodou tanto às pessoas que apresentaram performance, quanto ao público que assistiu. Aos organizadores, como Thaíse no caso, incomoda “deixar alguém de fora”

Resumidamente, o ponto em comum entre a fala de Thaise e a fala de Bruno é: porque há tanta procura?

Mariana comentou que devemos pensar no que precede essa superlotação de propostas, tanto no festival como na Nuvem, e acredita que o que permite ampliar o debate é pensar sobre quais são as possibilidades de inserção do artista. Mariana diz acreditar que essa é uma lógica recorrente a todos os editais e projetos: tem havido uma superlotação de propostas, o que impede que todos coloquem em ação suas propostas/projetos.

Bruno Vianna disse acreditar que há uma superlotação de tudo no nosso tempo. Cita como exemplo a falta de água, que tanto nos preocupa.... Isso para ele é emblemático, e nos mostra que devemos resolver os problemas em cada micro-esfera. A questão é como resolver os problemas. Bruno lembra ainda uma frase de Deleuze afixada na parede da sala de jantar: “grande revolucionário somente o menor” e diz que a frase representa um desejo da nuvem: querer ser pequeno para sempre, mas defende a ideia de que o modelo de autonomia adotado pela Nuvem talvez pudesse ser replicado.

Michele disse achar que “um modelo de representação” se esgotou e acrescenta que tanto a Nuvem, quanto o festival organizado por Thaíse, parecem querer fugir de arquétipos. Por exemplo, e o que vai ao encontro do que disse Michele, é que os interessados na residência não precisam apresentar um portfólio ao se inscreverem.

Isabel acredita que a discussão tem a ver com “o desejo de estar presente com o outro”, pois por mais que se possa fazer sozinho, muitos querem estar na nuvem. Por exemplo, numa relação de presença e coletividade. E então, na Nuvem não se tem seleção, não se tem curadoria, mas tem um limite, que lida com a falta de capacidade para receber todo mundo. E assim, esbarramos na incapacidade para lidar com o limite.

Para Mariana, estamos vivendo um momento em que “residência artísticas” tem um peso na vida de um artista até maior do que uma exposição individual, por exemplo. Voltamos então, segundo ela, a dois pontos: um é o exercício da presença, da experiência e o outro ponto é que o mercado de arte exige que os artistas elaborem currículos e aumentem suas produções para estarem inseridos. E assim, ela questiona se a busca por acontecimentos como a Nuvem e o Festival tem a ver com a ideologia de estar junto, ou se tem mais a ver com a demanda do mercado. E questiona como seria se abrisse uma convocatória para capinar a nuvem. ”Como seria a busca?”. Ou se mudasse o nome da convocatória, ao invés de “residência”, poderia ser “Capinagem na Nuvem“. Será que esses mesmos artistas estariam aptos a isso? Bruno Vianna interfere na fala de Mariana, acrescentando que a maioria dos trabalhos desenvolvidos na Nuvem não se encaixam em galerias e acredita que a Nuvem não tem o papel legitimador, talvez por não se preocupar com a seleção. Inclusive, diz que pessoas já desistiram de fazer a residência pelo fato de terem sido convidadas sem serem selecionadas.

Thaíse diz acreditar que por mais que a experiência da Nuvem não pareça legitimadora, por causa desse perfil, o que “agrega valor” é a questão da continuidade e da rede construída, uma vez que operamos por uma tendência de capitalizar a rede. Então, não tem seleção, mas a rede vinculada à nuvem acaba legitimando a experiência (entre os pares).

Para Luísa, a experiência cria uma situação artificial: As pessoas vão para a Nuvem, desligam seus celulares e tem uma situação em que se passa uma semana focado e concentrado nos seus próprios trabalhos. Luísa diz achar legal que muitas pessoas se inscrevam, pois mostra que muitas pessoas estão querendo pensar a arte, seja por ser artista, ou pesquisador, e que a questão da legitimação não seja importante de fato.

Thaíse acrescenta que não acredita que legitimar, ou não, seja realmente a questão, mas a estrutura da Nuvem e as características apresentadas anteriormente (como continuidade e criação de rede) torna a proposta difícil de ser replicável, e cita como exemplo o que ocorre com o Festival de Apartamento, que apesar de ter uma estrutura simples e barata e ter um processo de realização breve e também baseado em rede, também não é muito replicado. Várias pessoas mostraram interesse em realizar o festival em suas casas no estilo “faça você mesmo”, e apesar de os organizadores terem se disponibilizado a ajudar a organizar ou a divulgar, esses festivais não aconteceram e a proposta se centrou nas vezes em que os organizadores estiveram presentes. Voltando à discussão para o caso da Nuvem, Thaise disse acreditar que se a rede é o valor, então, disseminar a rede é o que multiplica e fazer a residência dissemina a rede. E Bruno Vianna disse que a Nuvem adota justamente um modelo da massificação, em que através da rede se dissemina de muitos para muitos, de poucos para pouco. Ele acredita que o mundo ideal seria que tivessem várias possibilidades, vários projetos similares ao projeto da Nuvem e as pessoas pudessem escolher para onde mandar propostas.

Bruno Oliveira pergunta se a maioria das pessoas que se inscrevem para a residência são artistas ou vem do campo das artes. Ou existem outros campos? A resposta de Bruno Vianna é que tem muitos artistas, mas aparecem pessoas de outros campos também. O curioso é que, segundo Bruno Vianna, no Interactivos o número de pessoas de outros campos é maior que o número de artistas, ao contrário da residência de verão, que por ser uma auto-residência, há mais pessoas do campo das artes.

Surge então uma pergunta sobre a definição de artista. Quem se define ou não como tal? Thiane diz se definir como artista e bailarina, pois acredita que a partir da definição, pode criar um diálogo. Se definir como artista é, para ela, uma possibilidade de se definir a fim de criar um percurso, e com isso poder falar do que faz. A definição serve ainda para se representar em algum momento (que seja para preencher um papel) e inclusive, as podem ser as definições podem ser provisórias.

O filtro na nuvem acaba sendo natural e delimitado pelas suas características e regras já apresentadas aos interessados pela convocatória: ser em local isolado, é preciso que os residentes colaborem nas tarefas diárias da casa, é preciso dividir quartos, etc. Ou seja, as pessoas que mandam propostas sabem de antemão o que as esperam. Bruno Vianna diz acreditar que, quem vai para a nuvem já possui de certa forma um “espírito colaborativo” e sem contar a questão apontada por Thaíse: fazem parte de uma rede (de amigos e pessoas que se conhecem).

Bernardo aponta que nas duas vezes em que esteve na Nuvem notou que poucas pessoas falam de mercado, ou de trabalho, por ser um espaço mais lateral e criativo-afetivo e por isso mesmo livre para se criar, falar. O bacana da nuvem, segundo ele, é que se pode criar no espaço uma rede que esteja fora do que é comercial. As pessoas não se preocupam com galerias, ou em escrever um livro para vender. É uma residência laboratório: mistura cultura, biologia e pessoas diferentes. Quem vai para a Nuvem, segundo Bernardo, tem a possibilidade de sair de lá diferente.

Thiane pergunta então, qual o desejo dos organizadores e se se deseja ver a continuidade dos projetos, por exemplo, que as pessoas pudessem voltar para continuar um projeto iniciado na nuvem. Bruno Vianna esclarece que o intuito é tornar a rede mais forte com o passar do tempo e eles gostam da ideia de ver pessoas diferentes chegando, projetos se desenvolvendo, a página da wikipedia crescendo. Pois, eles pensam a partir da perspectiva de replicação, de disseminação e de geração de conhecimento. E a página da wiki é o instrumento pelo qual as pessoas podem replicar o que desenvolveram no período da residência e é acessível a todos.

Com isso, Mariana propõe que pensemos no papel do artista e em qual artista estamos falando. Ela acredita se tratar de um artista que pensa na estética da conectividade e não está isolado e que propõe conectar para formar um novo mundo. Bernardo pergunta a Mariana porque o artista conecta e outras pessoas não podem conectar? Porque martelar na figura do artista? Para ele, o hacker é um exemplo de conector.

Eu comento que poderíamos ampliar a definição de artista para não restringirmos a discussão e comento aquilo que o artista alemão Joseph Beyus defendeu sobre todo ser humano ter um potencial criador e de que todos, independente da área de atuação, poderiam trabalhar para, segundo Beuys, construir uma escultura social.

Bernardo nos conta sobre a proposta que ele fez a residência com base na cultura digital. Ele escrevia um livro aberto, online a fim de se questionar a existência de um autor único e os direitos autorais nos dias de hoje, na era da rede, uma vez que tudo está conectado, sem precisar pensar na criação individual. Então questiona: com quem trabalhar? Com todos, pois a rede é humana.

Bruno Oliveira relembra do caráter histórico da arte: o termo arte foi criado junto com o termo artista e com o mercado de arte emergente. Ele diz acreditar que a discussão se hacker não é artista é um tanto retrograda e para estar na Nuvem, nós já aceitamos de antemão que não estamos falando de um artista clássico.

O Hacker é o artista do século XXI, segundo Bernardo, e pode fazer, por exemplo, o arduino funcionar de um jeito estético ou utilitário. E aí entra outra discussão, assim como o que é o artista, o que é o hacker? Isabel ensaia uma possível definição: Hacker é alguém curioso, investigativo, e que adota o princípio de autonomia e quer tomar para si uma autonomia, vem de uma cultura livre, subverte o sistema e faz o sistema funcionar de outra forma. O termo vem do meio digital, mas pode ser adotado de outras formas, é alguém que trabalha nas brechas. Segundo Bruno Vianna, na convocatória se evita usar o termo “arte” ou “artista”, pois se fala em rede e subentende-se várias coisas, não limitando.

Bruno Oliveira comenta que mandou a convocatória para cursos diversos da Unila (universidade onde cursa o mestrado) e as pessoas tiveram certa dificuldade de entender a ideia de “proposta de trabalho”, e comenta que a elaboração de proposta é de algum campo específico, e sugere que se repense as perguntas do formulário para não restringir. Talvez até aumentem as propostas, mas a convocatória se amplia, passando a ter um alcance maior.

A rigor, segundo Thaise, se existe uma prevalência de pessoas que se reconhecem dentro da categoria artista na nuvem, é porque são os instrumentos ou estratégias de circulação da arte e que mesmo que sirva para se fazer outra coisa, é chamado de residência, que é uma coisa do mundo da arte. Ou seja, permanece a referência ao mundo da arte. Ela nos conta ainda que tal questão surgiu para ela junto com o desejo de criar um encontro de arte de “ação“ que não houvesse nenhum tipo de registro. E nesse caso, a nomenclatura da convocatória é importante, pois a ideia seria não restringir às propostas ao mundo da arte. Acredita ainda que, os conceitos que definem, às vezem ampliam, mas às vezes reduzindo: Se é uma residência, muitas pessoas se identificam, se é outra coisa, restringe quem vai querer participar. Por exemplo, se usa o termo “capinagem“, citado por Mariana, muita gente do mundo da arte vai se sentir excluído.

Thiane, que estava no seu último dia de residência, quis “concluir” a experiência vivida por ela na Nuvem nos contando que permaneceu por 7 dias, mas teve a sensação de ter vivido muito mais tempo. Destacou da experiência, a possibilidade de conhecimento. Diz que foi para desenvolver uma ideia, com base no projeto que havia mandado: coleta de depoimentos (dos residentes e dos moradores da região) sobre estado civil a partir de um teaser, e pretendia fazer diversas cápsulas com esses depoimentos sobre como se sente que vínculos de verdade foram estabelecidos. A experiência e o convívio com diversas pessoas (que ela chama de pessoas-nuvem) que passaram por ela enquanto durou sua estadia, fez com que a proposta inicial fosse repensada. E disse que gostaria de a participar da Nuvem de novo a fim de dar continuidade ao projeto.

Bernardo contou que sua proposta foi uma continuidade de um projeto que havia se iniciado na Nuvem há dois anos atrás. E Isabel nos contou que esteve em duas edições do Interactivos (Residência de Inverno) e a sua experiência na residência está sendo replicada na escola em que trabalha, uma vez que desenvolve um projeto chamado “Rede-livre“.

O conceito de rede foi levado para ser pensado na escola: por exemplo, uma escola possuidora de rede-livre e conectada por meio de um chat coletivo, com possibilidades de trocas de conhecimentos, download de bibliotecas. Segundo Isabel, a definição de rede se baseia no que vai se construindo por meio de uma ação, que gera outra, outra e que transforma uma história. Essa ideia partiu de uma residência do Interactivos baseada no conceito de Rede-livre, como o acesso à comunicação livre.

Para concluir a conversa, foi comentado brevemente o conceito de autonomia. Bruno Vianna disse que atualmente a Nuvem funciona sem investimentos para se gerir e isto é o que a mantém praticamente autônoma e é possível que se invente e se adote novos modelos. E a questão apresentada por fim foi: que se há eventualmente residentes que pensam em uma continuidade de projetos (como sugerido por Thiane e exemplificado por Bernardo e Isabel com exemplo de seus projetos que tiveram continuidade), talvez os próprios residentes pudessem se tornar anfitriões, vez ou outra, sem depender da disponibilidade de Bruno Viana e Cinthia Mendonça, e assim a casa poderia funcionar por mais tempo e abarcar quantas propostas fossem submetidas.

A reunião terminou, depois de cerca de 1h30, quando eu cheguei com castanhas portuguesas que havia levado do sítio dos meus pais. Mas a discussão havia sido proveitosa.



Questionário:

No dia seguinte à reunião, comecei a fazer os questionários que havia proposto. Apliquei o questionário aos residentes com quem convivi nos dias em que estive na Nuvem.

Residentes: Bernardo Gutierrez, 39 anos, Internet; Luísa Marinho, 26 anos, Rio de Janeiro, RJ; Thiane, 32 anos, Bahia; Thaise Luciane Nardim, 30 anos, Campinas, SP/ Palmas, To; Victor Pacheco, 24 anos. Serra, Es; Bruno Oliveira, Foz do Iguaçu e Victor Tozarin, SP;


1) Qual o título/tema da sua proposta para a Residência de Verão da Nuvem? E qual a sua proposta? Descreva em poucas linhas.

B:'Este livro se autodestruirá'(em espanhol). É um texto escrito em uma plataforma aberta (Titanpad.com). Um texto que propõe ser coletivo remixado e alterado. A última fase #freeCortázar, um remix do livro Fantomas contra los vampiros multinacionales' e um abaixo assinado para liberar os direitos do Cortázar.

L:Escolhi usar o tempo de permanência na nuvem como limite central do projeto. Serão sete dias na casa e me propus a realizar um trabalho por dia. Serão pequenas anotações sobre os pontos mais recorrentes no que eu tenho pesquisado recentemente: as marcas da memória, o movimento e o tempo.

T:'Estado Civil'-a proposta é coletar depoimentos tanto dos residentes como das pessoas que estejam ao redor da Nuvem.

TN:Inicialmente a proposta chamava-se 'Re-inscrevento a arte da performance' e tratava da cópia manual 'caligráfica, cursiva' do livro 'Performance Art: from futurism to present'de Roselee Goldberg. O livro era tomado como um paradigma da história dura e 'desencarnada' da arte da performance.Porém, com dúvidas sobre a consistência desse projeto optei por escolher copiar um livro relativamente aleatório que eu tinha interesse em ler, e que apresentava para a cópia a dificuldade de ser em língua inglesa-idioma cuja grafia eu não domino.

V: Propus pensar modos artistas de subjetivação a partir da relação estabelecida com a casa/afazeres e da interação entre os residentes. A princípio era compor um caderno de processo com produções a partir da experiência, mas durante a residência o projeto se ampliou para a relação com histórias locais, boatos e a circulação de rumores entre os moradores da região.

V e B:'Estudos para jardins de plantas ordinárias'. Coleta e levantamento de algumas espécies de plantas daninhas e pesquisa nos métodos de representação.


2) Porque você se inscreveu para a Nuvem? Quais características da proposta da Nuvem podem colaborar para o sua prática criativa?

B:É um espaço tranquilo, longe da urbe, apropriado para eu escrever em fusão. Aliás, é um bom lugar, de trocas, conversas e inspirações.

L:Para estar em ambiente isolado, fora da rotina de ateliê, em contato com pessoas de diversas áreas e compartilhar interesses. A dinâmica da casa possibilita uma cooperação nas atividades cotidianas. Pensar, cozinhar e conviver em uma coletividade fluida em que várias pessoas chegam e partem a todo momento, gera uma dinâmica oxigenada e rica para se produzir.

T:As características de troca com a Nuvem que colaboram com o meu trabalho são as pessoas e a tecnologia

TN: Tenho interesse em pensar a escrita manual-caligráfica-cursiva como uma tecnologia educacional low tech, e seu papel frente às escritas digitais ou digitalizadas. A Nuvem oferece um ambiente propício para isso graças ao perfil dos residentes que aqui encontramos. Além disso, o ambiente rural e 'bucólico' é propício para concentração no projeto especialmente no caso dessa demanda de alta concentração.

V:Por ser um espaço de possibilidade de compartilhamento do processo criativo. Estar junto e produzir em relação às interferências dos outros residentes era algo que me interessava. A vida e um certo encantamento pela política do cotidiano tem me atraído enquanto questão de perguntar.

V e B: Para dar continuação a nossa investigação de plantas ordinárias e dar início a novos projetos. Colaboram: -a localização; -diversidade de produção; -contato com residentes.


3) Você se define como artista? Como você se define? (artista contemporâneo/ artista de novas mídias/ outro)

B:Não. Pós-jornalista. Conector, talvez criador.

L:Sim. Geralmente uso 'artista visual', mas não me preocupo com a consolidação de uma nomenclatura específica.

T:Artista do corpo ou bailarina performer.

TN: Em geral defino-me como professora-performer. Não é muito preciso conceitualmente, mas marca um posicionamento político. Não gosto que me seja atribuído o status 'artista', mas ao mesmo tempo eu ainda mantenho formas de 'operação profissional' que me ligam a isso, como por exemplo manter um portfólio.

V: Dificilmente. Acredito em um modo de se afetar e produzir desdobramentos, isso poderia se configurar como arte (modo artista), nesse sentido sim. Mas como profissão preciso pensar bem em como me definir.

V e B: Artesão-artista-pesquisador.


4) Qual a sua formação? (universidade/ outro)

B:Jornalismo-Universidade Complutense (Madrid), Universidade Coimbra (Portugal).

L: Formação acadêmica em Comunicação Social. Fotografia e artista visual através de cursos na EAV.

T:Artes do corpo-Centro em Movimento de Lisboa.

TN:Bacharel em Artes Cênicas, Mestre em Artes e Doutoranda pela Artes da Cena pela Unicamp. Especialista em Arte-Educação e Tecnologias Contemporâneas pela UNB. Fui estudante de licenciatura em Artes Visuais pela UNB, sem ter concluído o curso. Mas atribuo grande valor em minha formação às oficinas livres, à participação em palestras e congressos e o que eu aprendi em residências e eventos de arte, e em encontro com artistas e seus congêneres

V: Psicólogo. Mestrado em Psicologia Institucional e Especializado em Arte terapia (UFES).

B: Bacharel em Ciências da Computação, Mestrando em Estudos Afro-Americanos./V: Estudante de Arquitetura.


5) Como é o seu trabalho? Quais materiais você utiliza na concepção?

B:Computador, internet, TitanPad.com, twitter,Facebook, listas de e-mails.

L: Meu trabalho parte das construções possíveis nos entrecruzamentos entre memória e imaginação. A criação de narrativas está presente e há um grande espaço para o texto, a palavra. Cada projeto pede uma mídia distinta. Circulo entre a performance, o gesto a fotografia, o vídeo, a dança... O desenho está implícito também, como construção de pensamento.

T: Meu trabalho é pensado a partir de meus interesses, agora meu interesse está em corpo/vídeo e depoimentos.

TN: Trabalho com arte da performance, hoje investigando intersecções possíveis entre arte da performance e educação. Recorro a materiais mais ordinários provenientes da educação e do ensino de arte clichê e antiquado, buscando questioná-los e/ou levá-los ao paroxismo. Essas séries atuais articulam-se a minha pesquisa de doutorado, sem uma hierarquia entre uma coisa e outra. Meu site: <hhttp://www.thaisenardim.com>

V: Como desenvolvo perguntas sobre modo de vida na cidade e venho pensado na interação urbana como intervenção clínica, os diários de campo sempre estiveram presentes na minha produção. Ultimamente, venho produzindo intervenções plásticas nos diários_ eles tem se tornado objetos plásticos em si. Tal qual os restos de história que trato para pensar a vida na cidade, pedaços de papel avulsos, objetos encontrados pela rua, tudo passa a compor os diários que crio.

V e B: Trabalho de experimentações com toda a sorte de materiais.


6) Na hora que você pensa um trabalho/obra, você pensa também na sua recepção? De que modo?

B:No meu caso, é um trabalho distributivo, contra o mercado e copyright.

L: Sim. Parte do fazer artístico a reflexão de como sua produção encosta no mundo, encontra o outro. A montagem de um projeto é tão importante quanto a sua ideia. Os materiais escolhidos podem reforçar o potencial metafísico de uma obra. A forma é o trabalho.

T: Sempre. Penso sempre que estou criando algo para o outro-público.

TN: Sim, mas é meio automático já esse fazer. Eu fui incorporando essa preocupação ao longo do tempo ao processo criativo, de modo que me parece difícil separar isso mesmo que para fins apenas didáticos. Ao mesmo tempo o trabalho proposta para a Nuvem é bem experimental, sem compromisso com a circulação e recepção, porque não se propõe como 'obra'.

V: Normalmente penso nos desdobramentos do trabalho, mais do que em um resultado, algo que pensei em pensar na residência- dar corpo ao trabalho, com início, objetivos e resultados da proposta.

V e B: Sim, pensamos na experiência dos jardins e na poética do ordinário/menor.


7) Você já mediou oficinas/workshops para o público referentes a sua prática criativa? Se sim, como foi? Se não, como você pensaria na possibilidade?

B: Sim, mas 'práticas criativas' não sei. Mediei muitas oficinas sobre ativismo, redes, criatividade, escrita, jornalismo.

L:Não. No entanto, é uma das questões que mais me interessam no pensamento para construir trabalhos. A troca com o público e a formação de pessoas. Em oficinas, o artista tem a possibilidade de dividir o fruto da sua pesquisa e também receber um olhar estrangeiro sobre a sua produção, de forma que o processo se enriquece.

T: Sim, já mediei aulas de dança e práticas cênicas para adultos e crianças.

TN: Diretamente referente a minha poética não. Já dei muitas oficinas, workshops e aulas, mas geralmente referindo à história da arte da performance ou analisando e propondo práticas a partir dos fazeres de outros 'artistas'.

V: Já discuti em disciplinas ministradas no mestrado a utilização da fotografia e de criação da produção de conhecimento. Oficinas de fotografia e apresentação de trabalhos relacionado ao uso de diários de criação.

V e B: Sim, porém não deste trabalho específico. Há porém uma série de exercícios a essas investigações, como a busca do menor/ordinário em outras esferas e a busca de várias maneiras de representação.