Ana Cláudia Menezes
Cada um tem uma montanha dentro de si
Tem muito mato aqui
aquela montanha parece um urso dormindo
Compartilho uma imagem escrita em um papel, essa imagem possui uma potencia inicial que logo se torna uma conversa, engatilhando pensamentos que geram outras imagens... Aos poucos essas paisagens colhidas em forma de depoimentos e conversas, foram se misturando às pessoas, aos gestos, aos sons do lugar, os cheiros, e toda e qualquer pessoa, bicho ou folha, já fazia parte dessa composição.
"ÁRVORE" ( MANOEL DE BARROS )
Um passarinho pediu a meu irmão para ser uma árvore. meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho. No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de sol, de céu e de lua mais do que na escola. No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo mais do que os padres lhes ensinavam no internato. Aprendeu com a natureza o perfume de Deus. Seu olho no estágio de ser árvore, aprendeu melhor o azul. E descobriu que uma casa vazia de cigarra,esquecida no tronco das árvores só serve para poesia. No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores são vaidosas. Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se transformara, envaidecia-se quando era nomeada para o entardecer dos pássaros e tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos brejos. Meu irmão agradecia a Deus aquela permanencia em árvore porque fez amizade com as borboletas.
Com o tempo de permanência e a interação com o ambiente do entorno, cheio de vales e montanhas, a troca foi se intensificando ao ponto de não precisar fazer perguntas para se ter respostas. Tudo interligado num eterno diálogo, um pulsar, uma latência. Uma montanha vista de longe não revela todo o movimento de vida que acontece em seu entorno. É preciso adentrar sua mata e seguir pela sua pele para senti-la viva.
Foto: Marcela Antunes
ar puro vales araucárias
uma grande árvore
chuva
Gostaria de agradecer a todos os artistas que dividiram comigo suas experiências sobre montanhas, o compartilhamento de lembranças e imagens, as preciosas indicações dos livros, viagens e caminhos...
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Performance: Cada um tem uma montanha dentro de si
Atelier Codorna / Rio de Janeiro / Maio 2015
Vi uma feiticeira.. Vestiu branco.. Organizou a mesa.. Semeou nas linhas da mão.. Juntou os ingredientes.. Terra.. Água.. Flor.. Braço.. Chegaram ao mundo.. Marcaram seu rosto.. Tocaram o chão.. Pés..
Poesia da amiga Bianca Silva
Foto: Bianca Silva
para que teu braço germine é necessário regar cada buraco jovem teu e plantar terra fofa no seu antebraço. os velhos fingem ter sidos cicatrizados.já incorporaram a dissimulação. alugar um trator para demolir a montanha de desastre já em formação - submersa em seus buracos- e enterrá-la dentro do meu ventre. adubo compatível com a espera. quanto de desastre você inaugura durante a semana? qual é a velocidade da formação do seu planalto? há uma água que escorre a cada tentativa de vida sua e um mato que cresce incansavelmente nas bordas da cadeira onde espero. uma ampulheta na quina da cômoda marca/registra o tempo que seu buraco permanece aberto. no final do(s) dia(s), sem que descaradamente você perceba, são minhas mãos e rosto que estão sujos pela terra fofa. sou eu que germino nessa montanha de espera(s).
Poesia linda, um presente de Gaio Violeta http://sensacaodevioleta.blogspot.com.br/2015/06/para-que-teu-braco-germine-e-necessario.html
Fotos: Ade Evaristo
Um agradecimento especial ao amigo Raphael Couto pelo convite para participar da mostra de performances.